segunda-feira, 16 de maio de 2011

Os bobos do corte

Não sei que raio de equipa é que alguns sportinguistas pensam que o clube poderá ter na próxima época, pelos vistos não uma onde entre o avançado do Besiktas Bobo. O que é mais estranho é o desconhecimento que estes mesmos revelam sobre a qualidade do jogador. Não sei se pelo nome, ou pela carreira discreta que tem feito, mas existe já muita piada corrosiva sobre a possível chegada do brasileiro a Alvalade.

Caros leitores deste blog, para quem não sabe Bobo é um bom jogador, com instinto de goleador, capaz de marcar (até num confuso e hiperbolizado Besiktas) cerca de 15-20 golos por época. Sugiro que em vez de imaginarmos pontas de lança de elite de camisola verde e branca vestida, em vez de sonharmos com internacionais brasileiros e argentinos a marcar 50 golos por época na Liga, coloquemos os pés na terra e agradecermos a chegada de jogadores da qualidade do ex-avançado do Corinthians.

Este problema entronca num outro mais vasto. Consequência de uma vontade acérrima de ver tudo diferente em Alvalade, muitos adeptos começam agora a falar de títulos, de ser campeão já na próxima época. Porque vai haver Domingos e algum dinheiro para investir, muitos sentem que a mudança pode ser mágica e que se pode colocar a fasquia à altura do título. Erro número um.

Com uma nova direcção, um treinador novo e muitos jogadores novos, nada pode ser mais sufocante que a exigência de resultados imediatos. É necessária uma cultura mais exigente, mas isso constrói-se dentro do clube e não pelos “pedidos” dos adeptos. Para começar não seria nada mau que disputássemos os títulos, que nos mantivéssemos na luta até bem mais tarde do que o que tem sido hábito. Não seria nada mau ter uma equipa com grande colectivo e alguma arte na interpretação do jogo.

Normalmente é mais fácil começar pelo princípio, i.e. começar por construir uma equipa. Como isso não vem pré-fabricado, demora o seu tempo e terá alguns dissabores pelo caminho, caberá a cada sportinguista ser realista e entender o caminho traçado. Dificilmente o caminho pode ser exigir a Domingos que em 3 meses construa um campeão, especialmente com os limites orçamentais a que estará obrigado.

Ao contrário do Porto do ano anterior, o Sporting não transita para a próxima época com uma base de plantel sólida, a precisar apenas de um novo treinador e alguns acertos de jogadores. Quem comparar a reviravolta nortenha à que o Sporting poderá fazer estará a menosprezar quase todos os ingredientes que costumam fazer parte da receita dos campeões. O que alguns estão já a pedir a Domingos é uma espécie de poção mágica, instantânea, miraculosa.

Os tais 30 milhões de euros que se apregoa para investir são uma verba muito considerável, enorme à escala portuguesa. Mas não nos enganemos, não é o suficiente para comprar uma equipa, ou títulos, é um esforço muito importante para dar uma injecção de talento e revitalizar a confiança do clube, mas não passemos do 8 ao 80, o fosso que existe entre o Sporting e os seus eternos rivais vai bem mais longe que 30me.

Mais importante até que o dinheiro é a atitude e a postura dos dirigentes e adeptos do clube. Da ausência de confiança e exigência não convém nada passarmos para o completo inverso, os extremos atraem-se e ambos os caminhos levam ao mesmo resultado. Insucesso. Com este texto não isento o Sporting da conquista de títulos, isento-o sim da precipitação, da vertigem e dos equívocos de quem quer tudo já.
Neste quadro Bobo, assim como qualquer avançado com a sua valia deveria ser bem-vindo e com alguma calma esperar que se adapte ao nosso futebol e às balizas portuguesas.

Os verdadeiros Bobos são os que se riem ainda antes da piada.

Até breve.

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