domingo, 17 de fevereiro de 2013

Jorge Jesus

Já há meses que corre nas bocas de muitos Sportinguistas a ideia que Jorge Jesus poderá vir a ser treinador do Sporting. É no mínimo muito improvável. As razões são óbvias e são tantas:

1/ JJ está entre os 30 treinadores mais bem pagos do mundo. Não sei se o seu sportinguismo é suficiente para aceitar vir ganhar menos de metade para um clube que não vai poder oferecer-lhe luta por títulos.

2/ O interesse do Porto pelo treinador dos encarnados é tão notório que Pinto da Costa decidiu manter um "adjunto" no banco só para ganhar tempo até que a águia de entregue de mão beijada o próximo treinador. Já aconteceu no passado e será natural que volte a acontecer. Depois dos insucessos gritantes de Domingos no Sporting e Depor será sempre o natural candidato à "cadeira de sonho/pesadelo" do Dragão.

3/Depois de Braga e Benfica, o próximo passo natural de JJ deveria ser, se quiser manter a progressão, um clube estrangeiro. Não é certo que seja do tipo "emigrante" e muito menos que se adapte a uma realidade futebolistica fora do país. Tal como outros treinadores portugueses (Manuel José, Cajuda ou Jaime Pacheco) vai descobrir já tarde a via internacional e nunca terá o balanço de Mourinho ou Vilas Boas.

4/De alguma forma é evidente que o ciclo JJ no Benfica está a terminar. Se não vencer nenhum troféu principal (Liga Europa ou Liga) será a Direção a marcar este fim. Se porventura vencer uma das mesmas, a situação pode inverter-se e ser o próprio JJ a sair pelo próprio pé, com uma conquista importante terá mais impacto a sua mudança para outro emblema. As recentes pré-contratações na Holanda de Djuricic e Suleiman podem ser um indicativo de que já não é o treinador encarnado quem está a aconselhar estas transferências, não são o tipo de jogadores que lhe encham o olho e parece de alguma forma estar distante do processo.

Face a este panorama e entrando o Sporting numa longa travessia do deserto, o risco de uma aposta por Alvalade seria no mínimo estranha. Jesus não tem o perfil de treinador de formação e o seu carácter essencialmente prático e objectivo "precisa" de talentos de iguais características para poder funcionar. Esse tipo de jogadores não existem ainda no plantel do leão e não vai haver formas de os contratar. O Sporting nunca iria sequer ao mercado nacional adquirir 10 jogadores que cumprissem o modelo linear deste treinador.

5/ Será mais natural ao Sporting que contrate um treinador jovem e ambicioso, que não pese na estrutura financeira e que esteja familiarizado com o aproveitamento de talentos de formação. Depois da experiência com Vercauteren, será provável que venha de realidades latinas (Portugal, Espanha, Itália, Argentina ou Brasil).

6/ Imaginar JJ a conviver com um Manager Jesualdo Ferreira será no mínimo caricato. Ainda mais estranho se for Couceiro por exemplo o vencedor das eleições.

Fora estas conjecturas, sei que numa realidade alternativa JJ poderia fazer um excelente trabalho no Sporting. Mas neste timing que se avizinha, não seria bom para nenhuma das partes que os caminhos se juntassem. Ser sportinguista e estar num rival não pode ser o único critério para validar um treinador.

Até breve

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O Príncipe Perfeito

Depois do institucional aristocrata Soares Franco, depois de um ingénuo Bettencourt, depois de um equivoco Godinho, quem se seguirá. Idealmente seria um candidato que não repetisse os erros dos seus antecessores. Que fosse um agregador de energias que Franco não soube ser. Que fosse prevenido quanto às facadas nas costas do Sporting e do futebol português que Bettencourt não soube ser. Que fosse decidido e confiante num rumo, algo que Godinho não soube ser.

Será Couceiro?

Está habituado a conviver com os adeptos, com todos os quadrantes do clube, conhece-os bem. É um bom comunicador e parece entender que mais do que mandar um presidente é alguém que deve atribuir responsabilidades e condições para outros consigam ser bem sucedidos. Pelo seu discurso passam muitas experiências, dificuldades do passado em Portugal e lá fora em cumprir missões exigentes. Couceiro deve saber bem o que não fazer na gestão de uma equipa.

Será capaz de juntar uma equipa directiva capaz de convencer os Sportinguistas? Essa é uma pergunta interessante, na minha opinião o maior trabalho de Couceiro por esta altura deverá ser recusar "amigos" e não convidá-los. É óbvio que entre os candidatos que se perfilam, José Couceiro será o mais agregador.
Severino não passa de um espasmo de um pequeno nicho de sócios e Bruno de Carvalho tem uma hoste larga de opositores, os sócios com mais anos continuarão a ver neste candidato demasiada vontade de ruptura.

Couceiro será visto por muitos como a aposta ideal para quem quer mudar a gestão do clube sem agitar demasiado as aguas. Mas não poderá ser rotulado de continuidade, pois como o próprio disse sempre foi opositor do modelo vigente no clube e essa postura parece consistente com o que sempre defendeu para o clube (aposta na formação, valorização dos atletas, técnicos e condições de trabalho, contenção de custos e estabilidade directiva).

Mas como ninguém é perfeito, Couceiro deverá ter os seus defeitos e por vezes dá-me a sensação de alguma brandura, que admito possa ser fruto de uma educação extrema de respeito pelo diálogo e opiniões. Algo que já não estamos habituados, a boa educação, é muitas vezes tão contrastante com outras formas de estar que parecem desprovidas do "sangue fervilhante" tão latino, tão obtuso e inconsequente. Isso em eleições tem um preço e Bruno de Carvalho tentará a todo o custo expor Couceiro como alguém incapaz (por longas afinidades ou por carácter) de "partir os pratos" necessários à mudança do clube.

Neste jogo, veremos quem consegue defender-se melhor dos rótulos. Mas para mim é já claro que existirão duas grandes candidaturas nestas eleições, com pouco a separá-las na verdade, essencialmente uma questão de postura pessoal. Couceiro e Carvalho esperariam decerto um candidato da "banca", mas não deverá surgir em tempo útil alguém que tenha peso junto dos sportinguistas e que aceite o papel designado (Hermínio recusou) e o que seria uma corrida a 3 será um confronto directo, espero que elevado.

Até breve.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Onde fica o Principio?



Para que serve um clube de Futebol? Para que serve o Sporting?

O Sporting foi fundado para que o desporto tivesse mais um competidor. Mais um acesso da comunidade civil ao desporto. Para que crianças e jovens tivesse a possibilidade de apreender a practica desportiva. Para que jovens e adultos pudessem exprimir o seu talento e enriquecimento pessoal. A identidade seria marcada desde a génese por uma profunda ambição: ser dos melhores. Não o melhor, mas um dos melhores.

Com o passar das décadas, o clube afirmar-se-ia como uma potencia nacional. Porquê? Como?

Renegar a origem elitista do Sporting é um desfavor que se faz a um passado que nada tem para esconder. Pelo contrário. É óbvio que o clube reflecte desde o primeiro dia preocupações e orientações desportivas que emanam de uma visão filantrópica da comunidade. Para uma burguesia urbana, herdeira de uma decadente e proscrita nobreza, nada poderia ser conquistado sem honra, sem justiça, tudo seria resultado de um profundo respeito pelo passado, pelas armas, brasão e leão, pela nação, língua e linhagem.

Na desorganização efervescente e dinâmica do povo, imperou o sentido gregário e exclusivo, claro que mais facilmente capitalizável, dos sportinguistas. De um bairro novo e essencialmente burguês, o Sporting falou a Lisboa. De Lisboa às províncias intra e ultramarinas foi um passo curto. Portugal era então uma grande metrópole, a cabeça de um velho Império.

5 pessoas. Foram os Violinos que deram uma música mais popular ao Sporting. Crianças de todo o pais e colónias eram seduzidas pelas narrativas épicas de um “bando de irmãos”, arrebatadores, super-atletas que a tudo e todos desconcertavam. Eram homens de várias ascendências, várias formas de estar, que estiveram para o futebol nacional, como uma geração mirabolante de Húngaros estiveram para o mundo. Descobria-se então a arte, o génio, as obras-primas, a beleza do jogo. O que significa bom futebol nunca mais seria o mesmo em Alvalade.

Uma organização alicerçada em conquistas sucessivas e um ecletismo de excelência traduzia o que era então o clube, nem por sombras menor que Benfica, o Porto era então uma pequena realidade regional da cidade do Porto, não maior do que tantos outros clubes espalhados pela Europa.

Como começa o declínio?

Pode-se dizer que os anos 60 foram cruciais na iniciar de uma recta descendente do Sporting. Foi a década de muitos movimentos sociais, de profundas transformações politicas e económica. Surge a primeira noção de classe média, que ascendia por norma de comunidades fabris, de autênticos pólos de dormitórios espalhados à volta das cinturas industriais das grandes cidades.

Foi nestes subúrbios que nasceu a força do arqui rival Benfica. Que acompanhou a ascenção de uma classe, que a integrou como linguagem do clube, que se manifestou do “povo” e era de facto a sua tradução nas 4 linhas.

O Sporting demorou em desvincular-se da lógica de “clube de cavalheiros”, fê-lo a tempo de não perder a evolução para clube de grandes massas. Já não foi a tempo de as cativar com tanto sucesso como o Benfica. Os primeiros sucessos internacionais do clube da Luz e as guerras coloniais só viriam a expor ainda mais as contradições entre passado e presente de um clube que só a espaços rentabilizaria o filão africano que tanto deu a clubes como Setúbal,, Belenenses e Benfica.

As décadas de 70 e 80 seriam mais ou menos recompensadoras conforme a lógica de gestão mais ou menos populares que o clube empreendeu. Com o surgir do Porto como 3ª potencia, a relação de forças alterou-se e quem mais perdeu foi sem dúvida o Sporting que veria a ausência de triunfos aumentar tanto como a consolidação do clube de Pedroto e Pinto da Costa. Foi o tempo de grandes reestruturações no jogo politico. Uma lógica de poder do futebol repartido perderia espaço para o submundo de hegemonia. Para a corrupção activa e passiva. Para um Sporting onde as palavras mérito e justiça sempre significaram mais do que ganhar ou conquistar, esta seria uma mudança trágica que ainda hoje pagamos bem caro.

Nos anos 90 e principio de um novo século surge uma primeira tentativa de renascimento. O futebol industria e o futebol do capital davam os primeiros passos num Portugal a tentar ser Europeu. O Sporting foi pioneiro nas SADs, na cotação em bolsa, na organização como empresa. 2 títulos foi quanto se amealhou num esgotamento de capital fabuloso. Pode-se dizer que o falhanço dentro das 4 linhas e a ambição desmedida de construir um novo estádio arruinaram o Sporting que passaria anos a fio a festejar segundos lugares sem cuidar dos passos seguintes, sem entender o que lhe faltava.

Os mandatos de Bettencourt e Godinho são a prova acabada de um declínio de competência e ambição. De uma identidade perdida. De uma ausência completa de entendimento com o que é hoje a sua base de apoio.

Para que serve o Sporting hoje?

Já sem o ónus de participação cívica, o Sporting serve hoje apenas a vontade dos seus adeptos. É um pólo agregador de sentido de pertença. Mas a sua missão é cada vez mais equivoca. Não ganha. Não se renova. Não se financia. Não se define em relação aos demais.

Ganhar títulos é uma recompensa pelo mérito, pelo valor em competição. Não é um fim e muito menos um principio. O grande problema do Sporting é que encara como seu principal problema a falta de vitórias. Está profundamente errado. O grande problema do clube é que não consegue atingir excelência na sua organização social, desportiva e económica.

Qual é a solução?

Entender quem somos, o que fazemos bem e onde não conseguimos fazer melhor que os outros. Se queremos fazer realmente melhor que os outros e o que isso exigirá do próprio clube. Queremos ser um feudo politico-regional como o Porto? Uma balbúrdia intelectual/ditatorial como o Benfica? Uma sombra institucional como o Braga?

A solução não está fora. Mas dentro do clube. Pois se não conseguirmos eleger os nossos melhores sportinguistas dificilmente teremos o  melhor Sporting. Esta é a hora de dar força e não de a retirar. O sucesso dependerá do respeito e da ordem. Se a próxima direcção for construída pela virtude, pelo mérito, então teremos espaço para que tome realmente conta do Sporting. Se ficarem de fora os “assaltos” pessoais aos cargos de visibilidade e se todos os sportinguistas quiserem os que provavelmente não precisam de lá estar, porventura teremos o que não temos há décadas: um cérebro funcional que faça mexer os membros na direcção correcta.

Está nas nossas mãos o que o Sporting ainda for capaz de ser. Sem o nosso compromisso tudo será em vão.

Até breve.