Com a época a terminar e com os jornais a
debitarem dezenas de contratações e saídas para a próxima época, mantenho firme
a certeza que no Sporting mais do procurar o que falta, procurar-se-á o que já
se tem. Na época mais atacada por lesões de que tenho memoria, jogadores que
podiam ter sido influentes não o foram. Á cabeça, Jeffren, Rinaudo e Rodriguez
eram 3 atletas de que se esperava muito e não haviam muitas dúvidas que teriam
lugar no onze quase garantido.
O espanhol vindo do Barcelona sempre foi visto
como uma promessa de enorme jogador, um dos canteranos que Guardiola lançou a
espaços no Barcelona e que brilhou nesses poucos momentos. Nas selecções jovens
sempre foi a estrela da equipa e é fácil de entender porque. Jeffren é um
jogador atípico espanhol, com um drible estonteante e uma técnica acima do
normal. Estará muito mais perto de um modelo de craque brasileiro ou até
português. Na falta de um novo Ronaldo, Nani ou Quaresma, todos pensámos ter
descoberto na Catalunha o extremo desequilibrador que faltava. 5 ou 6 jogos e
sucessivas lesões é o saldo da sua época. No pouco tempo que jogou, mesmo
assim, fez algo de diferente. A dúvida que assalta qualquer Sportinguista não é
porém se há ou não talento, mas se há ou não condição física que suporte a valorização
do investimento. É barato ter um jogador do quilate de Jeffren titular na nossa
equipa. É um luxo inacessível ter o internacional espanhol mais um ano no
“estaleiro” ou no banco de suplentes.
Rinaudo foi a estrela do Verão leonino. Há
muitos anos que um trinco puro (e duro) não vestia a nossa camisola e bem cedo
mostrou que os playmakers adversários não teriam tempo nem espaço para nos
fazer os estragos que normalmente faziam. O internacional Argentino projectou
um meio-campo agressivo e musculado e curiosamente é com a sua lesão que se
inicia a queda de Domingos. Vaslui não dirá absolutamente nada a ninguém,
excepto que foi onde Fito acabou a época. Era esperado que regressasse à equipa
em Março, mas a lesão grave que sofreu não permitiu nem regressos antecipados
nem regressos atrasados. O maior ídolo das “curvas” de Alvalade, estatuto que
ganhou com uma forma de jogar que eu classifico como “heróica”, tem de facto
uma carreira brilhante em risco. Carriço precisou de tempo para emular o argentino,
mas consegui-o. A questão que se põe é: será Rinaudo um suplente sequer capaz
de ser opção no futuro? É que com o modelo de Sá Pinto a equipa parte às costas
de um trinco “a todo o gás”, capaz de varrer todo o miolo. Uma missão de grande
desgaste que precisa de mais uma opção sem dúvida. Neto ou André Santos nunca
serão esse tipo de “varredor” impulsivo.
Depois de 5 épocas brilhantes no Braga, o
Peruano Rodriguez não iria para o Dragão como foi tantas vezes conjecturado
pela imprensa, mas sim para Alvalade, seguindo Domingos. Ainda o treinador
andava a experimentar duplas e já uma lesão na selecção peruana (aconteceu duas
vezes esta época) faria um estrago muito maior que o admitido. El Mudo ficou El
Quedado e apesar de algumas tentativas de regresso, a época foi perdida no
ginásio. O que seria, na visão de Domingos, o esteio do centro da defesa, foi
apenas uma longa e demorada ausência. Pelo que não se vê de soluções aos
sucessivos problemas físicos é quase imponderável a sua continuidade. Vender
não é uma opção (nunca passaria em qualquer exame médico) mas emprestar ou
rescindir sim. Uma lástima para o jogador e para o Sporting. Rodriguez podia
ter sido um titular seguro durante muitos anos em Alvalade. O sucessor de Polga
ainda não está encontrado.
Teria sido mau que estes 3 jogadores perdessem
a época mas infelizmente tiveram “companhia”. Embora não tão graves, houve
muitas outras lesões que amputaram o plantel de opções válidas e até um certo
ponto podem fazer equacionar a presença de outros jogadores no plantel da época
seguinte.
Izmailov, Onyewu e André Santos são casos
bastante diferentes entre si, mas partilham um problema sério de capacidade
para realizar épocas de grande desgaste como são as do Sporting ou qualquer
clube que lute por títulos na Europa.
O russo é do melhor que já passou pelo clube,
mas também é dos jogadores com um historial de graves lesões. Ano após ano a
esperança por uma época “saudável” do Czar vai-se hipotecando e apesar de um
bom final de época não creio que uma oferta de 5 u 6 milhões de euros não
convença os dirigentes de uma vez por todas de que mais vale uma transferência
na mão do que mais uma época pelo ar.
O americano parecia destinado à rotulagem de
flop. Dispensado pelo AC Milan, não convincente na liga Holandesa e com um
cadastro de lesões assinalável, Gooch justificaria a “antiga paixão” de Freitas
com bons jogos, golos e uma surpreendente capacidade para conter os impulsos
suicidas que marcaram uma carreira recheada de lesões. Onyewu nunca será um
central completo. É lento e capacidade técnica a roçar o zero, mas com ele em
campo não há jogo aéreo adversário e são os defesas contrários que terão
pesadelos com a sua capacidade de marcar golos em livres e cantos. O problema
é, mais uma vez, a dificuldade em conseguir realizar uma época inteira sem
ausências prolongadas. O Sporting não pode ter 6 ou 7 centrais e não há razões
para acreditar que o Internacional Norte-Americano venha com o ocaso da
carreira a colmatar as debilidades de que há muito tempo sofre.
O português André Santos é um caso diverso.
Não são os membros inferiores que afectam a carreira do jovem médio, mas sim o
seu afundamento psicológico. Depois de uma época inteira a titular, todos
imaginariam que a progressão desta promessa com Domingos fosse meteórica. Não
foi. Sem o modelo de 2 trincos, o internacional português caiu numa solidão
táctica impeditiva. Em campo pareceu sempre desamparado e disjuntado da equipa,
numa (talvez) dificuldade inultrapassável para compreender as novas funções de
um trinco clássico. Cedo se percebeu que perdera o comboio das opções de
Domingos e nem com Sá Pinto recuperou os níveis de motivação para regressar do
mundo dos “mortos tácticos”. E se Sá Pinto não parece capaz de devolver a André
o lugar que já foi seu, com o aumento da concorrência espectável, será uma
racional medida repensar a presença do atleta no plantel do Sporting. Custa,
mas terá de ser.
6 atletas em equação. Todos eles com capacidade
demonstrada de ficar, mas com grandes dificuldades, numa gestão eficiente e
racional de vestir no próximo ano a nossa camisola. Não sairão todos, mas também
não poderemos manter todos. Fica a reflexão.
Até breve.