Parece-me existir um denominador comum nas
apostas de contratações e renovações do Sporting. Já no ano passado a
estratégia foi semelhante, mas muito menos conseguida, a tarefa de “limpar” um
plantel e construir outro era difícil e houve meios compromissos.
Mas nesta época é possível já distinguir nas
opções do clube e especificamente na estruturação do seu plantel de futebol
profissional A, uma estratégia. Coisa que vezes sem fim referi aqui que não
existia. De facto, ao olhar para as decisões tomadas neste Verão, salta à vista
um rumo. Muitos podem não concordar com o mesmo (nunca existe unanimidade) mas
ele existe.
Renovar apenas com os jogadores que dão notas
de crescimento e valorização. Preparar uma equipa jovem com algumas referencias
mais experientes. Dar primazia aos atletas formados em Alcochete. Comprar
(através de verbas consideráveis) apenas valores com dados seguros de procura
no mercado. Contratar soluções de 2ª linha apenas a custo zero. Estes são
alguns sinais de que existe uma ideia para o futebol do Sporting. Ela não passa
por um Ajax nem por um Arsenal, fica bastante distante do modelo de clube
formador e ainda longe das lógicas dos rivais Porto e Benfica.
Não será o caso de chamar à definição de
modelo competitivo leonino uma 3ª via. Não será nunca a 3ª, uma vez que a curto
prazo todos os clubes grandes dos campeonatos periféricos terão de a adoptar
como 1ª. O Sporting encontra-se assim a preparar o inevitável. Bem mais cedo
que os seus rivais que permanecem “iludidos” por transferências record de
jogadores que adquiriram por largos milhões de euros.
Num futuro que chegará cedo, será difícil que
um clube em Portugal consiga gastar mais de 4 ou 5 milhões num jogador. Não
existirá crédito bancário e muito menos equilíbrio no orçamento que o sustente.
O Fair Play financeiro da UEFA já não é uma miragem e as “loucuras” de Zentit,
Man City, Anzhi e PSG só vieram criar mais “momentum” nos grandes emblemas
europeus para acelerar a regra do equilíbrio orçamental.
As escolas dos nossos rivais produzem bons
jogadores, mas em rácios bem distintos dos nossos. Alem disso, a rede de scouts
de ambos é muito mais voltada para valores exteriores do que nacionais. O
Sporting tem a melhor rede de scouting jovem, mas isso não é uma realidade
imutável. O Benfica tem optado por uma “cópia” dos nossos processos e bem
recentemente tem procurado “no nosso quintal” valores mal protegidos,
tentando-os com contratos bem acima do que o Sporting implementa.
O Porto permanece com um sector de formação em
auto-gestão, que dá primazia ao lado técnico, mas que vive numa realidade
geográfica bastante reduzida. Ocasionalmente entra em campo na fase de
negociação de Sporting e Benfica com jovens atletas, subindo a parada...o que
não se pode chamar um verdadeiro scouting.
Longe vão os tempos de uma magnifica escola de
centrais e avançados.
Por agora este cenário parece pertencer a uma
narrativa distante das lógicas dos títulos e dos acessos à Champions. Mas em
breve irá deixar de o ser. A pacóvia e passiva atitude da FPF e Liga irão
esbarrar sobretudo nos insucessos da Selecção Nacional, que privada de grandes
jogadores formados nos grandes, não poderá acompanhar a evolução das grandes
nações desportivas (Alemanha, França, Inglaterra, Rússia, Itália ou Espanha)
que estão bem mais adiantadas nas regras de limitação de jogadores
estrangeiros.
Ninguém o deseja, mas é óbvio que enquanto os
3 grandes não patrocinarem uma revolução das competições portuguesas, nada fará
mudar o actual regime, que relega o atleta português constantemente para as
segundas ou terceiras opções.
O plantel do Benfica é um exemplo negativo do
caminho e sobretudo da mentalidade dos gestores desportivos, onde um valor
médio estrangeiro é sempre preferível a um titular da Seleção Portuguesa. A
imprensa parece ignorar a tacanha visão que isto reflecte.
Esperemos para ver o que o futuro reserva.
Aplaudo o caminho do Sporting, reforçando que o futebol das escolas terá de ser
mais blindado a “raids surpresa” de forma a obrigar os nossos rivais a despender
o mesmo esforço e o mesmo empenho que a nós nos obrigamos para formar bons
atletas. O Sporting terá de rever os contratos e as salvaguardas que inclui.
Afinal de contas, terá de fazer valer o seu estatuto de grande escola mundial
na balança da negociação.
Ser um grande formador e um mau vendedor não
combina.
Até breve.
Caro Violino,
ResponderEliminarA minha homenagem a tão excelente post!...
Só isso. Parabéns.
Forte e leonino abraço.
Excelente texto, dos melhores que li até hoje na Blogosfera Leonina. Muitos Parabéns!!! Saudações Leoninas.
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