Para os mais desatentos, a dificuldade de Portugal como selecção se apurar (pela segunda vez vamos a um play off, pela segunda vez num grupo bastante acessível) para o Europeu será um assunto que em nada afecta o futuro dos clubes. Nada mais errado. Os clubes, principalmente os 3 grandes, precisam de uma equipa nacional forte, quanto mais não seja por questões de ranking, capacidade de investimento da FPF (imaginem quem vai subsidiar o futebol nacional se falharem os prémios da UEFA) e montra para grandes transferências.
No meu caso não precisaria de recorrer a questões clubísticas para me entristecer esta incapacidade para assumir um estatuto de selecção de elite conquistada a pulso noutras décadas. É penoso ver uma equipa à espera da genialidade de dois jogadores para resolver problemas de base, como é a falta de grandes jogadores. Por muito que gostemos de A ou B, por muito que seja sportinguista, portista ou benfiquista, é óbvio que Rolando não é Ricardo Carvalho, Bruno Alves não é Pepe, Eliseu não é Coentrão e Pereira não é o que já foi Bosingwa.
Se Patrício escapa por agora aos dedos acusatórios é meramente casual, mas na verdade é o único elemento da defesa que não tem uma sombra recente que o atormente. Primeiro Ricardo, depois Eduardo, com Quim e Beto pelo meio, não se pode dizer que o historial recente de keepers seja de luxo. A verdade é que se uma defesa composta por Bosingwa, Coentrão, Pepe e Ricardo Carvalho pode ser (se estiverem em pleno de forma) considerada com de top no futebol mundial, não há, por mais que nos custe valores de igual valia que a substituam.
Falo na defesa mas essa nem me parece a lacuna maior da equipa das quinas. Muitos dos grandes problemas residem no meio-campo. Nos jogos frente à Islândia e Dinamarca, a defesa foi frágil, mas o meio campo foi inexistente, pelo menos na parte defensiva, que como sabemos, é metade da tarefa dos jogadores meio-campistas. Moutinho e Meireles, além de não atravessarem o melhor momento individual da carreira, são cada vez mais jogadores dependentes da acção posicional de um trinco mais tradicional. E onde é que ele anda? Sofrer 3 golos frente aos islandeses foi um aviso que ninguém (incluo-me) levou muito a sério. Na Dinamarca, apenas a precisar de um empate, nunca existiu uma equipa segura da sua força defensiva. A segurança advinha sobretudo da improbabilidade da Suécia ir vencer na Holanda. E venceu.
Resumindo, penso estarem completamente a nu, muitas dúvidas sobre a real capacidade da Selecção Nacional em fazer um Europeu condizente com o historial mais próximo de participações em grandes torneios. O play off é uma luta de aflitos, onde não nos devemos defrontar com nenhum adversário de igual ou superior capacidade, mas tal como nos clubes, é nos grandes jogos que se vencem competições e se mede a força e talento de uma equipa. Frente a Dinamarqueses a roçar o limite de qualidade (veremos isso no tipo de participação dentro da fase final) estivemos também nós a roçar o limite da banalidade. Se vale a pena culpar a defesa ou o "castigo" de Ricardo Carvalho é assunto que me parece trivial.
O que me interessa olhar é à reacção de quem rege as instituições que regulam o nosso futebol. Para essas, a derrota na Dinamarca deveria ter sido um 1º grande aviso de que urge intervir no nosso futebol. Um primeiro sinal de que existe um areal quebra de qualidade, de competitividade e de poder. Corporativamente a Liga e a FPF deveriam o quanto antes acelerar processos de renovação há demasiado tempo adiados. O quadro de competições profissionais e dos escalões de formação estagnaram e retrocederam respectivamente, a I Liga está em franco decréscimo de receitas e a qualidade das selecções jovens é aterrador.
A participação no Mundial de sub-20 na Colombia podia conseguir provar uma melhoria no trabalho dos clubes nas sectores de formação. Podia, mas não pode. Quando nenhum dos atletas, mesmo depois de provar valor acima da média (foi o 3º melhor resultado de sempre) assegurou titularidade nos plantéis dos clubes que detêm os seus passes, penso estar tudo dito. Resta-nos pois esperar pela interpretação dos organismos mais responsáveis pelo futuro do nosso futebol. Espero bem que não fiquem sentados à espera de um bom play off para fazer de conta que todos os problemas se encontram e resolvem dentro das 4 linhas. Espero eu também sentado, pois daqui a 4 anos sei que estarei a dizer algo muito parecido com o que digo agora.
Até breve.
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