Findo o Euro, fica mais ou menos óbvio, que
Portugal foi a Selecção que mais problemas criou à Bicampeã Espanha. Ser o
primeiro dos últimos não é motivo de orgulho, mas olhemos para o copo meio
cheio e há que dar os parabéns a Paulo Bento e aos jogadores por resgatar uma
equipa à beira da eliminação no apuramento e conseguir, esteve muito perto,
marcar presença na Final.
Este grupo que se deslocou à Polónia e à
Ucrânia não era de forma alguma considerado um favorito, havia muitas dúvidas
até que nos apurássemos para os quartos-de-final. A razão principal prende-se
com a falta de unanimidade de alguns titulares que nunca foram olhados como
primeiras figuras. Se Patrício acabou esta época com todas as dúvidas, outros
como João Pereira, Bruno Alves, Miguel Veloso, Moutinho, Hugo Almeida ou
Postiga, eram vistos como “herdeiros pobres” dos consagrados Bosingwa, Ricardo
Carvalho, Maniche, Figo, Rui Costa ou Pauleta.
Não foi só. As fracas épocas de Coentrão,
Rolando, Varela, Meireles, Nani a somar aos “desaparecidos” Eliseu, Duda e
Dany, fez com que todas as fichas se jogassem em Cristiano Ronaldo, esse sim
com uma das melhores épocas individuais (senão a melhor).
Não só os jogadores recuperaram, como
mostraram que o facto de não terem o “selo” de geração de ouro não os impedia
de fazer grandes torneios e ombrear em duelos directos com os melhores
jogadores europeus. Na verdade faltou pouco a esta Selecção para ser
verdadeiramente histórica. Faltou mais calma nos penaltis. Apenas isso. Grandes
figuras do futebol mundial incorreram na mesma falha. Nada a apontar.
Mas apesar dos aplausos, durante os 5 jogos do
torneio e já durante a fase de apuramento foram evidentes algumas lacunas do
nosso jogo. Há cabeça, os problemas de concretização, uma dificuldade clássica
portuguesa. Nenhum dos 3 avançados do grupo é um homem golo. Postiga gosta de
se envolver no transporte de bola, Hugo Almeida nunca teve killer instinct e
Nelson Oliveira não trazia ritmo nem estatuto suficiente para se esperar mais
do que o que fez.
A solução pode até ser Nelson Oliveira, mas é
curto. No próximo Mundial os outros companheiros de lugar terão 30 e 31 anos e
se a carreira até lá do vice-campeão sub20 é uma incógnita, Postiga e Almeida
dificilmente atingirão um nível melhor do que já possuem. Abrem-se assim, a meu
ver, duas enormes vagas no nosso futuro elenco.
A verdade é que, não surgindo nenhuma surpresa
(inclusão de nacionalizados como Lima ou Kleber), todas as atenções cairão
sobre os jovens Betinho e Salvador Agra.
Na lista de problemas segue-se o posto de
central. É certo que Pepe poderá fazer o Mundial (31 anos daqui a 2), mas para
Bruno Alves que terá 33 o caso é ligeiramente diferente. Urge na verdade
completar o ciclo de transição de Rolando, muito possivelmente com uma
transferência para um futebol mais agressivo, que definitivamente prove estar
preparado para uma grande competição internacional. Já as alternativas Ricardo
Costa e Sereno ficam muito aquém do desejável. Também aqui o futuro desenha os
mesmos cenários, Maikon do Porto é uma possível “nacionalização” e antes de
mais preciso dizer que não concordo com esta solução, mas está à vista que tem
sido a forma que a FPF e os seleccionadores da altura têm encontrado para
suprir a fraca escolha que o nosso campeonato gera (Liedson, Deco, Pepe, são 3
casos numa única década) e é urgentíssimo limitar a entrada de estrangeiros no
nosso futebol. Roderick, Ferreira e Nuno Reis são os senhores que se seguem,
sendo que para qualquer um destes o caminho será árduo. Benfica, Sporting e
Porto demorarão anos a desviar o seu foco para regressar à aposta continua e
assertiva no jogador jovem português.
Já no meio campo, a relativa juventude de
Veloso e Moutinho garante que apenas seja necessário garantir a ascensão de um
8 que substitua Meireles e de um novo maestro que devolva à Selecção um dos
seus símbolos naturais (como foram Rui Costa e Deco). Adrien e Hugo Viana têm
uma base de talento propicia, mas as carreiras de ambos parecem querer
desviá-los sempre da estabilidade. O Bracarense vive agora um momento de maior
afirmação, mas Paulo Bento tem reservas quanto à sua disponibilidade atlética.
O (ainda) sportinguista tem tudo (talento) para se mostrar, menos a confiança
do próprio clube que parece mais inclinado em transferi-lo do que o projectar
na equipa. Quanto à posição de pivot ofensivo, não restarão muitas dúvidas que
entre David Simão e André Martins estará encontrada a solução. Dependerá de
quem mais rapidamente conquistar o seu espaço. Existe ainda a situação de
Fernando do FCPorto, que várias vezes já vi comentado o interesse em “tornar
cidadão português”.
Nas alas, onde temos a tradição de contar
sempre com os especialistas mais valiosos do futebol mundial, Nani e Ronaldo
continuarão por alguns anos o seu reinado. Mas torna-se necessário fazer
emergir algo mais do que Varela. Quaresma nunca foi verdadeiramente uma solução
na equipa de todos nós e terá 30 anos no próximo torneio. Assim o “esquecido”
Vieirinha do Wolfsburgo e as grandes promessas Bruma e Cavaleiro são as
hipóteses mais concretas.
É fácil de constatar, concorde-se com as
soluções ou não, que existe um fosso de competitividade e experiência muito
grande, entre os que estarão com 29, 30 e 31 anos no próximo Mundial e os
candidatos mais credíveis nesta altura a ocupar essas posições. E isso levanta
dois cenários, nenhum deles bom. Ou vamos ao Brasil com uma selecção bastante
envelhecida e com a maior parte dos titulares em completo declínio ou Paulo
Bento chama à Selecção principal jogadores jovens, sem ritmo e sem espaço
competitivo (um pouco como aconteceu agora com Nelson Oliveira).
A solução ideal, mas sem dúvida muito pouco
provável, seria regular a nossa I e II Liga Profissional + Campeonato de
Juniores, adaptando à nossa realidade muitas das boas medidas que muitos
campeonatos europeus já têm para proteger o espaço dos jogadores nacionais. A
saber:
Contratações:
I LIGA:
Possibilidade de contratar apenas 3 jogadores
não portugueses no mercado de Verão e 1 no mercado de Inverno.
II LIGA:
Possibilidade de contratar apenas 2 jogadores
não portugueses no mercado de Verão e 1 no mercado de Inverno.
JÚNIORES:
Possibilidade de contratar apenas 2 jogadores
não portugueses por época.
Rácio (p/ nacionalidade) e número dos
planteis:
I LIGA:
50% dos atletas terão de ter o estatuto de
seleccionáveis por Portugal.
24 atletas no máximo. A maior parte das
equipas pode recorrer às B´s.
II LIGA:
75% dos atletas terão de ter o estatuto de
seleccionáveis por Portugal.
26 atletas no máximo.
JÚNIORES:
75% dos atletas terão de ter o estatuto de
seleccionáveis por Portugal.
24 atletas no máximo.
Prémios e Slots extra:
I LIGA:
Por cada internacionalização (portuguesa, em
todos os escalões), um acréscimo no prémio de participação na Liga.
A equipa com mais internacionalizações p/
época recebe a final da Taça da Liga.
II LIGA:
Por cada internacionalização, um acréscimo no
prémio de participação na Liga.
A equipa com mais internacionalizações participa
num amigável na pré-temporada com o campeão nacional.
JÚNIORES:
A equipa com mais internacionalizações na época,
adquire o direito de preencher uma vaga na NextGen Series ou outra competição
que lhe venha a suceder.
Estas medidas seriam a base perfeita para
catapultar a nossa Selecção. E são mesmo necessárias pois nenhum outro país com
futebol de top dá tão pouca importância aos atletas produzidos internamente. É
que pela minha parte, gosto de ver nome de Portugal a brilhar bem alto, alem de
clubes mais portugueses. Para quem nenhuma destas questões tenha relevância (penso
serem os eternos padecedores de clubite aguda e pouco patriótica) a situação
tal como está é perfeita, com um Benfica, Porto e Sporting completamente brasileiros,
argentinos (a nova moda são os holandeses).
Até breve.
Muito bom post, os meus parabéns. Concordo com todas as medidas, à excepção de:
ResponderEliminar1. Juniores
75 % de portugueses é curto, ainda para mais tendo em conta a tua sugestão de, no máximo, dois reforços estrangeiros por temporada.
2. Taça da Liga
Referes que " a equipa com mais internacionalizações p/ época recebe a final da Taça da Liga." Imagina que era o Sporting a receber esse prémio, e a final da Taça da Liga era Porto x Benfica, ia haver muita polémica.
De resto, concordo com tudo
SL