quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O Caminho do Sporting



















Parece-me existir um denominador comum nas apostas de contratações e renovações do Sporting. Já no ano passado a estratégia foi semelhante, mas muito menos conseguida, a tarefa de “limpar” um plantel e construir outro era difícil e houve meios compromissos.

Mas nesta época é possível já distinguir nas opções do clube e especificamente na estruturação do seu plantel de futebol profissional A, uma estratégia. Coisa que vezes sem fim referi aqui que não existia. De facto, ao olhar para as decisões tomadas neste Verão, salta à vista um rumo. Muitos podem não concordar com o mesmo (nunca existe unanimidade) mas ele existe.

Renovar apenas com os jogadores que dão notas de crescimento e valorização. Preparar uma equipa jovem com algumas referencias mais experientes. Dar primazia aos atletas formados em Alcochete. Comprar (através de verbas consideráveis) apenas valores com dados seguros de procura no mercado. Contratar soluções de 2ª linha apenas a custo zero. Estes são alguns sinais de que existe uma ideia para o futebol do Sporting. Ela não passa por um Ajax nem por um Arsenal, fica bastante distante do modelo de clube formador e ainda longe das lógicas dos rivais Porto e Benfica.

Não será o caso de chamar à definição de modelo competitivo leonino uma 3ª via. Não será nunca a 3ª, uma vez que a curto prazo todos os clubes grandes dos campeonatos periféricos terão de a adoptar como 1ª. O Sporting encontra-se assim a preparar o inevitável. Bem mais cedo que os seus rivais que permanecem “iludidos” por transferências record de jogadores que adquiriram por largos milhões de euros.

Num futuro que chegará cedo, será difícil que um clube em Portugal consiga gastar mais de 4 ou 5 milhões num jogador. Não existirá crédito bancário e muito menos equilíbrio no orçamento que o sustente. O Fair Play financeiro da UEFA já não é uma miragem e as “loucuras” de Zentit, Man City, Anzhi e PSG só vieram criar mais “momentum” nos grandes emblemas europeus para acelerar a regra do equilíbrio orçamental.

As escolas dos nossos rivais produzem bons jogadores, mas em rácios bem distintos dos nossos. Alem disso, a rede de scouts de ambos é muito mais voltada para valores exteriores do que nacionais. O Sporting tem a melhor rede de scouting jovem, mas isso não é uma realidade imutável. O Benfica tem optado por uma “cópia” dos nossos processos e bem recentemente tem procurado “no nosso quintal” valores mal protegidos, tentando-os com contratos bem acima do que o Sporting implementa.

O Porto permanece com um sector de formação em auto-gestão, que dá primazia ao lado técnico, mas que vive numa realidade geográfica bastante reduzida. Ocasionalmente entra em campo na fase de negociação de Sporting e Benfica com jovens atletas, subindo a parada...o que não se pode chamar um verdadeiro scouting.
Longe vão os tempos de uma magnifica escola de centrais e avançados.

Por agora este cenário parece pertencer a uma narrativa distante das lógicas dos títulos e dos acessos à Champions. Mas em breve irá deixar de o ser. A pacóvia e passiva atitude da FPF e Liga irão esbarrar sobretudo nos insucessos da Selecção Nacional, que privada de grandes jogadores formados nos grandes, não poderá acompanhar a evolução das grandes nações desportivas (Alemanha, França, Inglaterra, Rússia, Itália ou Espanha) que estão bem mais adiantadas nas regras de limitação de jogadores estrangeiros.

Ninguém o deseja, mas é óbvio que enquanto os 3 grandes não patrocinarem uma revolução das competições portuguesas, nada fará mudar o actual regime, que relega o atleta português constantemente para as segundas ou terceiras opções.
O plantel do Benfica é um exemplo negativo do caminho e sobretudo da mentalidade dos gestores desportivos, onde um valor médio estrangeiro é sempre preferível a um titular da Seleção Portuguesa. A imprensa parece ignorar a tacanha visão que isto reflecte.

Esperemos para ver o que o futuro reserva. Aplaudo o caminho do Sporting, reforçando que o futebol das escolas terá de ser mais blindado a “raids surpresa” de forma a obrigar os nossos rivais a despender o mesmo esforço e o mesmo empenho que a nós nos obrigamos para formar bons atletas. O Sporting terá de rever os contratos e as salvaguardas que inclui. Afinal de contas, terá de fazer valer o seu estatuto de grande escola mundial na balança da negociação.

Ser um grande formador e um mau vendedor não combina.

Até breve.

2 comentários:

  1. Caro Violino,

    A minha homenagem a tão excelente post!...
    Só isso. Parabéns.

    Forte e leonino abraço.

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  2. Excelente texto, dos melhores que li até hoje na Blogosfera Leonina. Muitos Parabéns!!! Saudações Leoninas.

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