Analisar as últimas declarações de Bruno de
Carvalho sobre o ano de gestão desta nova Direcção é um exercício válido apenas
porque é a manifestação ou voz de muitos sócios e apoiantes do Sporting. Apenas
por isso, já que insisto neste blog que o comportamento e posicionamento do
ex-futuro-candidato serve uma agenda pessoal muito mais que as necessidades do
clube em ter uma oposição activa e mediática.
Há uma corrente que defende que sendo o
Sporting um clube democrático, as opiniões de qualquer associado devem ser
escutadas quer pró quer contra o status quo do clube. Esta é uma utopia que não
cabe no panorama actual do desporto e da sociedade portuguesa. Por várias
razões seria, na minha opinião, desnecessário esta oposição tão veemente e
pública de BC:
1/ Esta direcção não foi eleita com a maioria
do apoio dos sócios;
2/ A agenda financeira e desportiva da SAD é
tornada pública por obrigação da CMVM;
3/ Dirigentes, técnicos e directores têm
tornado bastante notório as razões por detrás de cada acto de gestão.
Por estes 3 motivos, é tão claro para BC como
para mim a eficiência e o sucesso deste ano de gestão do mandato de GL. Não
preciso que o senhor BC ou qualquer outro Sportinguista me diga que:
Financeiramente:
-
Ao ficar em 4º ou 5º na Liga, o clube perde
uma importante fonte de receitas (não acesso à Champions) e como tal no próximo
ano será mais difícil suportar o orçamento actual.
-
Para conseguir aceder a tantos novos
atletas a SAD contraiu novos empréstimos, em condições muito desfavoráveis
(panorama que se manterá devido ao difícil acesso a capitais dos nossos bancos
credores)
-
A recessão (ou falência técnica do clube)
deverá obrigar a que se venda dois ou mais dos melhores atletas no final da
época.
-
A mudança do Estádio para a SAD é uma
operação que visa apenas dar mais segurança ao pagamento das dividas.
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Ainda não foi recebido o valor da
transferência de Djaló.
-
As vendas de Postiga, Torsiglieri,
Zapater e Vukcevic foram bastante abaixo do esperado.
Desportivamente:
-
A classificação na Liga é muito abaixo do
desejado.
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A possível chegada às meias-finais da
Liga Europa está no nível de exigência pretendido.
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A presença na final da Taça de Portugal
está no nível de exigência pretendido.
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A participação na Taça da Liga é muito
abaixo do desejado.
-
Houve uma subida na valorização de
Patrício, Pereira, Ínsua, Carriço, Onyewu, Izmailov, Matias, Capel, Carrilho e
Wolfswinkel.
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Houve um decréscimo na valorização de
Evaldo, Rodriguez, André Santos, Pereirinha, Elias, Jeffren e Bojinov.
-
As contratações de Luís Aguiar, Bojinov e
Rodriguez ficaram longe do rendimento pretendido.
Tudo isto será o fundamental na análise mais
isolada ao sucesso do clube. Tudo isto eu consigo entender sem a ajuda
alarmista de BC ou qualquer outro. Apenas o bom-senso será preciso para imaginar
que na próxima época o Sporting terá de:
-
Reduzir a massa salarial do plantel
(vendendo ou emprestando 2 ou 3 dos atletas que mais auferem) ex: Wolfswinkel,
Jeffren, Bojinov ou Patrício.
-
Procurar soluções para um novo plantel a
custo zero e com remunerações mais ajustadas ao nível médio do plantel ex:
Adrien, Cedric, Nuno Reis.
-
Valorizar Rubio, Neto, André Martins,
Nuno Reis, Carrilho, Árias e Turan.
-
Ter a equipa B em competição como forma
de colocar atletas que já deram provas nos juniores de grande potencial.
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Ter um novo discurso de exigência
adequado à valia do plantel sem as recorrentes candidaturas a títulos que vão e
vêm conforme a classificação.
Como é óbvio o ano corrente não está a ser
brilhante e só não se constituirá num ano mau se a conquista da Taça de
Portugal e a presença na final da Liga Europa for uma realidade. Qualquer outro
cenário não apresentará mais valias significativas em relação a anos
anteriores. No aspecto económico e porque o mesmo é afectado pelo plano
desportivo a sensação que se fica é a de um marasmo de receitas com tendência a
agravar-se pela falta de novos encaixes (as receitas antecipadas já foram todas
realizadas).
Por isso, senhor Bruno Carvalho, dispenso a
sua “coragem institucional”, que não reconheço tão grande como outros
reconhecem e dispenso também a constante nota no seu discurso que faz o que faz
em nome do seu amor ao clube. Em nome de muitos “amores” já muita gente disse e
fez muito disparate, o momento do Sporting precisa é de menos emotividade e
mais racionalidade.
Sinceramente não acho que seja fácil resgatar
o clube da situação em que se encontra e não é por aparecerem vozes que clamam
pela incompetência de quem está a tentar fazê-lo que pensarei de forma
diferente. Gosto de pensar que todos se empenham pelo clube, errando mais ou
menos, e ninguém pode de facto dizer que tem a receita para inverter este
cenário, porque se assim fosse ela já teria sido implementada. Infelizmente não
é só o Sporting que tem pela frente uma longa travessia pelo deserto de
dificuldades económicas, a esmagadora maioria dos clubes, das empresas e dos países
esperam ansiosamente pela saída de uma recessão que já vai longa e bastante
agressiva.
Poupem-me a manobras de “implosão” dogmáticas em
que tudo o que não brilha é lixo. Cada vez menos reconheço em BC um presidente
do Sporting.
Até breve.