segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Onde fica o Principio?



Para que serve um clube de Futebol? Para que serve o Sporting?

O Sporting foi fundado para que o desporto tivesse mais um competidor. Mais um acesso da comunidade civil ao desporto. Para que crianças e jovens tivesse a possibilidade de apreender a practica desportiva. Para que jovens e adultos pudessem exprimir o seu talento e enriquecimento pessoal. A identidade seria marcada desde a génese por uma profunda ambição: ser dos melhores. Não o melhor, mas um dos melhores.

Com o passar das décadas, o clube afirmar-se-ia como uma potencia nacional. Porquê? Como?

Renegar a origem elitista do Sporting é um desfavor que se faz a um passado que nada tem para esconder. Pelo contrário. É óbvio que o clube reflecte desde o primeiro dia preocupações e orientações desportivas que emanam de uma visão filantrópica da comunidade. Para uma burguesia urbana, herdeira de uma decadente e proscrita nobreza, nada poderia ser conquistado sem honra, sem justiça, tudo seria resultado de um profundo respeito pelo passado, pelas armas, brasão e leão, pela nação, língua e linhagem.

Na desorganização efervescente e dinâmica do povo, imperou o sentido gregário e exclusivo, claro que mais facilmente capitalizável, dos sportinguistas. De um bairro novo e essencialmente burguês, o Sporting falou a Lisboa. De Lisboa às províncias intra e ultramarinas foi um passo curto. Portugal era então uma grande metrópole, a cabeça de um velho Império.

5 pessoas. Foram os Violinos que deram uma música mais popular ao Sporting. Crianças de todo o pais e colónias eram seduzidas pelas narrativas épicas de um “bando de irmãos”, arrebatadores, super-atletas que a tudo e todos desconcertavam. Eram homens de várias ascendências, várias formas de estar, que estiveram para o futebol nacional, como uma geração mirabolante de Húngaros estiveram para o mundo. Descobria-se então a arte, o génio, as obras-primas, a beleza do jogo. O que significa bom futebol nunca mais seria o mesmo em Alvalade.

Uma organização alicerçada em conquistas sucessivas e um ecletismo de excelência traduzia o que era então o clube, nem por sombras menor que Benfica, o Porto era então uma pequena realidade regional da cidade do Porto, não maior do que tantos outros clubes espalhados pela Europa.

Como começa o declínio?

Pode-se dizer que os anos 60 foram cruciais na iniciar de uma recta descendente do Sporting. Foi a década de muitos movimentos sociais, de profundas transformações politicas e económica. Surge a primeira noção de classe média, que ascendia por norma de comunidades fabris, de autênticos pólos de dormitórios espalhados à volta das cinturas industriais das grandes cidades.

Foi nestes subúrbios que nasceu a força do arqui rival Benfica. Que acompanhou a ascenção de uma classe, que a integrou como linguagem do clube, que se manifestou do “povo” e era de facto a sua tradução nas 4 linhas.

O Sporting demorou em desvincular-se da lógica de “clube de cavalheiros”, fê-lo a tempo de não perder a evolução para clube de grandes massas. Já não foi a tempo de as cativar com tanto sucesso como o Benfica. Os primeiros sucessos internacionais do clube da Luz e as guerras coloniais só viriam a expor ainda mais as contradições entre passado e presente de um clube que só a espaços rentabilizaria o filão africano que tanto deu a clubes como Setúbal,, Belenenses e Benfica.

As décadas de 70 e 80 seriam mais ou menos recompensadoras conforme a lógica de gestão mais ou menos populares que o clube empreendeu. Com o surgir do Porto como 3ª potencia, a relação de forças alterou-se e quem mais perdeu foi sem dúvida o Sporting que veria a ausência de triunfos aumentar tanto como a consolidação do clube de Pedroto e Pinto da Costa. Foi o tempo de grandes reestruturações no jogo politico. Uma lógica de poder do futebol repartido perderia espaço para o submundo de hegemonia. Para a corrupção activa e passiva. Para um Sporting onde as palavras mérito e justiça sempre significaram mais do que ganhar ou conquistar, esta seria uma mudança trágica que ainda hoje pagamos bem caro.

Nos anos 90 e principio de um novo século surge uma primeira tentativa de renascimento. O futebol industria e o futebol do capital davam os primeiros passos num Portugal a tentar ser Europeu. O Sporting foi pioneiro nas SADs, na cotação em bolsa, na organização como empresa. 2 títulos foi quanto se amealhou num esgotamento de capital fabuloso. Pode-se dizer que o falhanço dentro das 4 linhas e a ambição desmedida de construir um novo estádio arruinaram o Sporting que passaria anos a fio a festejar segundos lugares sem cuidar dos passos seguintes, sem entender o que lhe faltava.

Os mandatos de Bettencourt e Godinho são a prova acabada de um declínio de competência e ambição. De uma identidade perdida. De uma ausência completa de entendimento com o que é hoje a sua base de apoio.

Para que serve o Sporting hoje?

Já sem o ónus de participação cívica, o Sporting serve hoje apenas a vontade dos seus adeptos. É um pólo agregador de sentido de pertença. Mas a sua missão é cada vez mais equivoca. Não ganha. Não se renova. Não se financia. Não se define em relação aos demais.

Ganhar títulos é uma recompensa pelo mérito, pelo valor em competição. Não é um fim e muito menos um principio. O grande problema do Sporting é que encara como seu principal problema a falta de vitórias. Está profundamente errado. O grande problema do clube é que não consegue atingir excelência na sua organização social, desportiva e económica.

Qual é a solução?

Entender quem somos, o que fazemos bem e onde não conseguimos fazer melhor que os outros. Se queremos fazer realmente melhor que os outros e o que isso exigirá do próprio clube. Queremos ser um feudo politico-regional como o Porto? Uma balbúrdia intelectual/ditatorial como o Benfica? Uma sombra institucional como o Braga?

A solução não está fora. Mas dentro do clube. Pois se não conseguirmos eleger os nossos melhores sportinguistas dificilmente teremos o  melhor Sporting. Esta é a hora de dar força e não de a retirar. O sucesso dependerá do respeito e da ordem. Se a próxima direcção for construída pela virtude, pelo mérito, então teremos espaço para que tome realmente conta do Sporting. Se ficarem de fora os “assaltos” pessoais aos cargos de visibilidade e se todos os sportinguistas quiserem os que provavelmente não precisam de lá estar, porventura teremos o que não temos há décadas: um cérebro funcional que faça mexer os membros na direcção correcta.

Está nas nossas mãos o que o Sporting ainda for capaz de ser. Sem o nosso compromisso tudo será em vão.

Até breve.

3 comentários:

  1. bom post...
    eleger os melhores nao depende exclusivamente de quem vota mas também de quem se apresenta, o JEB venceu com mais de 90% dos votos, não estava preparado nem tinha qualquer plano ou projecto para o clube...

    mais haveria para avançar, o Sporting sempre foi inovador, fomos os 1ºs a avançar com a SAD como bem disse, mas tb fomos os 1ºs a ter um centro de estagio, os 1ºs a avançar com o Estadio, etc.. entretanto dormimos na sombra.. ficámos refens de resultados desportivos que nao apareciam, e financeiros cada vez piores...

    oxalá alguma coisa de boa resulte do proximo processo eleitoral, é mm isso que desejo, quero la saber se ganha o A ou o B quero que ganhe o Sporting, mas nao estou tao optimista...

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  2. Magnifico post. E acrescento o seguinte: o próximo presidente, seja ele qual for, terá de fazer 2 ou 3 mandatos. E terá de ter o apoio de todos os sportinguistas. Do adepto anónimo, ao sócio e orgaos sociais. TODOS sem excepção.

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  3. O que fez do Sporting um grande entre os maiores da Europa não foi a origem elitista. Foram as massas e milhões de adeptos. Os milhares que enchem o estádio. E serão esses que permitirão que continue grande. Se deixarmos que nos colem rótulos de clube de elites vamos ficar como o Belenenses e é isso que os nossos inimigos querem, com o Porto à cabeça.

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