Para que serve um clube de Futebol? Para que
serve o Sporting?
O Sporting foi fundado para que o desporto
tivesse mais um competidor. Mais um acesso da comunidade civil ao desporto.
Para que crianças e jovens tivesse a possibilidade de apreender a practica
desportiva. Para que jovens e adultos pudessem exprimir o seu talento e
enriquecimento pessoal. A identidade seria marcada desde a génese por uma
profunda ambição: ser dos melhores. Não o melhor, mas um dos melhores.
Com o passar das décadas, o clube
afirmar-se-ia como uma potencia nacional. Porquê? Como?
Renegar a origem elitista do Sporting é um
desfavor que se faz a um passado que nada tem para esconder. Pelo contrário. É
óbvio que o clube reflecte desde o primeiro dia preocupações e orientações
desportivas que emanam de uma visão filantrópica da comunidade. Para uma
burguesia urbana, herdeira de uma decadente e proscrita nobreza, nada poderia
ser conquistado sem honra, sem justiça, tudo seria resultado de um profundo
respeito pelo passado, pelas armas, brasão e leão, pela nação, língua e
linhagem.
Na desorganização efervescente e dinâmica do
povo, imperou o sentido gregário e exclusivo, claro que mais facilmente
capitalizável, dos sportinguistas. De um bairro novo e essencialmente burguês,
o Sporting falou a Lisboa. De Lisboa às províncias intra e ultramarinas foi um
passo curto. Portugal era então uma grande metrópole, a cabeça de um velho
Império.
5 pessoas. Foram os Violinos que deram uma música
mais popular ao Sporting. Crianças de todo o pais e colónias eram seduzidas
pelas narrativas épicas de um “bando de irmãos”, arrebatadores, super-atletas
que a tudo e todos desconcertavam. Eram homens de várias ascendências, várias
formas de estar, que estiveram para o futebol nacional, como uma geração
mirabolante de Húngaros estiveram para o mundo. Descobria-se então a arte, o
génio, as obras-primas, a beleza do jogo. O que significa bom futebol nunca
mais seria o mesmo em Alvalade.
Uma organização alicerçada em conquistas
sucessivas e um ecletismo de excelência traduzia o que era então o clube, nem
por sombras menor que Benfica, o Porto era então uma pequena realidade regional
da cidade do Porto, não maior do que tantos outros clubes espalhados pela
Europa.
Como começa o declínio?
Pode-se dizer que os anos 60 foram cruciais na
iniciar de uma recta descendente do Sporting. Foi a década de muitos movimentos
sociais, de profundas transformações politicas e económica. Surge a primeira
noção de classe média, que ascendia por norma de comunidades fabris, de
autênticos pólos de dormitórios espalhados à volta das cinturas industriais das
grandes cidades.
Foi nestes subúrbios que nasceu a força do
arqui rival Benfica. Que acompanhou a ascenção de uma classe, que a integrou
como linguagem do clube, que se manifestou do “povo” e era de facto a sua
tradução nas 4 linhas.
O Sporting demorou em desvincular-se da lógica
de “clube de cavalheiros”, fê-lo a tempo de não perder a evolução para clube de
grandes massas. Já não foi a tempo de as cativar com tanto sucesso como o
Benfica. Os primeiros sucessos internacionais do clube da Luz e as guerras
coloniais só viriam a expor ainda mais as contradições entre passado e presente
de um clube que só a espaços rentabilizaria o filão africano que tanto deu a
clubes como Setúbal,, Belenenses e Benfica.
As décadas de 70 e 80 seriam mais ou menos
recompensadoras conforme a lógica de gestão mais ou menos populares que o clube
empreendeu. Com o surgir do Porto como 3ª potencia, a relação de forças
alterou-se e quem mais perdeu foi sem dúvida o Sporting que veria a ausência de
triunfos aumentar tanto como a consolidação do clube de Pedroto e Pinto da
Costa. Foi o tempo de grandes reestruturações no jogo politico. Uma lógica de poder
do futebol repartido perderia espaço para o submundo de hegemonia. Para a
corrupção activa e passiva. Para um Sporting onde as palavras mérito e justiça
sempre significaram mais do que ganhar ou conquistar, esta seria uma mudança
trágica que ainda hoje pagamos bem caro.
Nos anos 90 e principio de um novo século
surge uma primeira tentativa de renascimento. O futebol industria e o futebol
do capital davam os primeiros passos num Portugal a tentar ser Europeu. O
Sporting foi pioneiro nas SADs, na cotação em bolsa, na organização como
empresa. 2 títulos foi quanto se amealhou num esgotamento de capital fabuloso.
Pode-se dizer que o falhanço dentro das 4 linhas e a ambição desmedida de
construir um novo estádio arruinaram o Sporting que passaria anos a fio a
festejar segundos lugares sem cuidar dos passos seguintes, sem entender o que
lhe faltava.
Os mandatos de Bettencourt e Godinho são a
prova acabada de um declínio de competência e ambição. De uma identidade
perdida. De uma ausência completa de entendimento com o que é hoje a sua base
de apoio.
Para que serve o Sporting hoje?
Já sem o ónus de participação cívica, o
Sporting serve hoje apenas a vontade dos seus adeptos. É um pólo agregador de
sentido de pertença. Mas a sua missão é cada vez mais equivoca. Não ganha. Não
se renova. Não se financia. Não se define em relação aos demais.
Ganhar títulos é uma recompensa pelo mérito,
pelo valor em competição. Não é um fim e muito menos um principio. O grande
problema do Sporting é que encara como seu principal problema a falta de
vitórias. Está profundamente errado. O grande problema do clube é que não
consegue atingir excelência na sua organização social, desportiva e económica.
Qual é a solução?
Entender quem somos, o que fazemos bem e onde
não conseguimos fazer melhor que os outros. Se queremos fazer realmente melhor
que os outros e o que isso exigirá do próprio clube. Queremos ser um feudo
politico-regional como o Porto? Uma balbúrdia intelectual/ditatorial como o
Benfica? Uma sombra institucional como o Braga?
A solução não está fora. Mas dentro do clube.
Pois se não conseguirmos eleger os nossos melhores sportinguistas dificilmente
teremos o melhor Sporting. Esta é
a hora de dar força e não de a retirar. O sucesso dependerá do respeito e da
ordem. Se a próxima direcção for construída pela virtude, pelo mérito, então
teremos espaço para que tome realmente conta do Sporting. Se ficarem de fora os
“assaltos” pessoais aos cargos de visibilidade e se todos os sportinguistas
quiserem os que provavelmente não precisam de lá estar, porventura teremos o
que não temos há décadas: um cérebro funcional que faça mexer os membros na
direcção correcta.
Está nas nossas mãos o que o Sporting ainda
for capaz de ser. Sem o nosso compromisso tudo será em vão.
Até breve.
bom post...
ResponderEliminareleger os melhores nao depende exclusivamente de quem vota mas também de quem se apresenta, o JEB venceu com mais de 90% dos votos, não estava preparado nem tinha qualquer plano ou projecto para o clube...
mais haveria para avançar, o Sporting sempre foi inovador, fomos os 1ºs a avançar com a SAD como bem disse, mas tb fomos os 1ºs a ter um centro de estagio, os 1ºs a avançar com o Estadio, etc.. entretanto dormimos na sombra.. ficámos refens de resultados desportivos que nao apareciam, e financeiros cada vez piores...
oxalá alguma coisa de boa resulte do proximo processo eleitoral, é mm isso que desejo, quero la saber se ganha o A ou o B quero que ganhe o Sporting, mas nao estou tao optimista...
Magnifico post. E acrescento o seguinte: o próximo presidente, seja ele qual for, terá de fazer 2 ou 3 mandatos. E terá de ter o apoio de todos os sportinguistas. Do adepto anónimo, ao sócio e orgaos sociais. TODOS sem excepção.
ResponderEliminarO que fez do Sporting um grande entre os maiores da Europa não foi a origem elitista. Foram as massas e milhões de adeptos. Os milhares que enchem o estádio. E serão esses que permitirão que continue grande. Se deixarmos que nos colem rótulos de clube de elites vamos ficar como o Belenenses e é isso que os nossos inimigos querem, com o Porto à cabeça.
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