segunda-feira, 2 de julho de 2012

A Selecção, Presente e Futuro


Findo o Euro, fica mais ou menos óbvio, que Portugal foi a Selecção que mais problemas criou à Bicampeã Espanha. Ser o primeiro dos últimos não é motivo de orgulho, mas olhemos para o copo meio cheio e há que dar os parabéns a Paulo Bento e aos jogadores por resgatar uma equipa à beira da eliminação no apuramento e conseguir, esteve muito perto, marcar presença na Final.

Este grupo que se deslocou à Polónia e à Ucrânia não era de forma alguma considerado um favorito, havia muitas dúvidas até que nos apurássemos para os quartos-de-final. A razão principal prende-se com a falta de unanimidade de alguns titulares que nunca foram olhados como primeiras figuras. Se Patrício acabou esta época com todas as dúvidas, outros como João Pereira, Bruno Alves, Miguel Veloso, Moutinho, Hugo Almeida ou Postiga, eram vistos como “herdeiros pobres” dos consagrados Bosingwa, Ricardo Carvalho, Maniche, Figo, Rui Costa ou Pauleta.

Não foi só. As fracas épocas de Coentrão, Rolando, Varela, Meireles, Nani a somar aos “desaparecidos” Eliseu, Duda e Dany, fez com que todas as fichas se jogassem em Cristiano Ronaldo, esse sim com uma das melhores épocas individuais (senão a melhor).

Não só os jogadores recuperaram, como mostraram que o facto de não terem o “selo” de geração de ouro não os impedia de fazer grandes torneios e ombrear em duelos directos com os melhores jogadores europeus. Na verdade faltou pouco a esta Selecção para ser verdadeiramente histórica. Faltou mais calma nos penaltis. Apenas isso. Grandes figuras do futebol mundial incorreram na mesma falha. Nada a apontar.

Mas apesar dos aplausos, durante os 5 jogos do torneio e já durante a fase de apuramento foram evidentes algumas lacunas do nosso jogo. Há cabeça, os problemas de concretização, uma dificuldade clássica portuguesa. Nenhum dos 3 avançados do grupo é um homem golo. Postiga gosta de se envolver no transporte de bola, Hugo Almeida nunca teve killer instinct e Nelson Oliveira não trazia ritmo nem estatuto suficiente para se esperar mais do que o que fez.

A solução pode até ser Nelson Oliveira, mas é curto. No próximo Mundial os outros companheiros de lugar terão 30 e 31 anos e se a carreira até lá do vice-campeão sub20 é uma incógnita, Postiga e Almeida dificilmente atingirão um nível melhor do que já possuem. Abrem-se assim, a meu ver, duas enormes vagas no nosso futuro elenco.
A verdade é que, não surgindo nenhuma surpresa (inclusão de nacionalizados como Lima ou Kleber), todas as atenções cairão sobre os jovens Betinho e Salvador Agra.

Na lista de problemas segue-se o posto de central. É certo que Pepe poderá fazer o Mundial (31 anos daqui a 2), mas para Bruno Alves que terá 33 o caso é ligeiramente diferente. Urge na verdade completar o ciclo de transição de Rolando, muito possivelmente com uma transferência para um futebol mais agressivo, que definitivamente prove estar preparado para uma grande competição internacional. Já as alternativas Ricardo Costa e Sereno ficam muito aquém do desejável. Também aqui o futuro desenha os mesmos cenários, Maikon do Porto é uma possível “nacionalização” e antes de mais preciso dizer que não concordo com esta solução, mas está à vista que tem sido a forma que a FPF e os seleccionadores da altura têm encontrado para suprir a fraca escolha que o nosso campeonato gera (Liedson, Deco, Pepe, são 3 casos numa única década) e é urgentíssimo limitar a entrada de estrangeiros no nosso futebol. Roderick, Ferreira e Nuno Reis são os senhores que se seguem, sendo que para qualquer um destes o caminho será árduo. Benfica, Sporting e Porto demorarão anos a desviar o seu foco para regressar à aposta continua e assertiva no jogador jovem português.

Já no meio campo, a relativa juventude de Veloso e Moutinho garante que apenas seja necessário garantir a ascensão de um 8 que substitua Meireles e de um novo maestro que devolva à Selecção um dos seus símbolos naturais (como foram Rui Costa e Deco). Adrien e Hugo Viana têm uma base de talento propicia, mas as carreiras de ambos parecem querer desviá-los sempre da estabilidade. O Bracarense vive agora um momento de maior afirmação, mas Paulo Bento tem reservas quanto à sua disponibilidade atlética. O (ainda) sportinguista tem tudo (talento) para se mostrar, menos a confiança do próprio clube que parece mais inclinado em transferi-lo do que o projectar na equipa. Quanto à posição de pivot ofensivo, não restarão muitas dúvidas que entre David Simão e André Martins estará encontrada a solução. Dependerá de quem mais rapidamente conquistar o seu espaço. Existe ainda a situação de Fernando do FCPorto, que várias vezes já vi comentado o interesse em “tornar cidadão português”.

Nas alas, onde temos a tradição de contar sempre com os especialistas mais valiosos do futebol mundial, Nani e Ronaldo continuarão por alguns anos o seu reinado. Mas torna-se necessário fazer emergir algo mais do que Varela. Quaresma nunca foi verdadeiramente uma solução na equipa de todos nós e terá 30 anos no próximo torneio. Assim o “esquecido” Vieirinha do Wolfsburgo e as grandes promessas Bruma e Cavaleiro são as hipóteses mais concretas.

É fácil de constatar, concorde-se com as soluções ou não, que existe um fosso de competitividade e experiência muito grande, entre os que estarão com 29, 30 e 31 anos no próximo Mundial e os candidatos mais credíveis nesta altura a ocupar essas posições. E isso levanta dois cenários, nenhum deles bom. Ou vamos ao Brasil com uma selecção bastante envelhecida e com a maior parte dos titulares em completo declínio ou Paulo Bento chama à Selecção principal jogadores jovens, sem ritmo e sem espaço competitivo (um pouco como aconteceu agora com Nelson Oliveira).

A solução ideal, mas sem dúvida muito pouco provável, seria regular a nossa I e II Liga Profissional + Campeonato de Juniores, adaptando à nossa realidade muitas das boas medidas que muitos campeonatos europeus já têm para proteger o espaço dos jogadores nacionais. A saber:

Contratações:

I LIGA:
Possibilidade de contratar apenas 3 jogadores não portugueses no mercado de Verão e 1 no mercado de Inverno.
II LIGA:
Possibilidade de contratar apenas 2 jogadores não portugueses no mercado de Verão e 1 no mercado de Inverno.
JÚNIORES:
Possibilidade de contratar apenas 2 jogadores não portugueses por época.

Rácio (p/ nacionalidade) e número dos planteis:

I LIGA:
50% dos atletas terão de ter o estatuto de seleccionáveis por Portugal.
24 atletas no máximo. A maior parte das equipas pode recorrer às B´s.
II LIGA:
75% dos atletas terão de ter o estatuto de seleccionáveis por Portugal.
26 atletas no máximo.
JÚNIORES:
75% dos atletas terão de ter o estatuto de seleccionáveis por Portugal.
24 atletas no máximo.


Prémios e Slots extra:

I LIGA:
Por cada internacionalização (portuguesa, em todos os escalões), um acréscimo no prémio de participação na Liga.
A equipa com mais internacionalizações p/ época recebe a final da Taça da Liga.
II LIGA:
Por cada internacionalização, um acréscimo no prémio de participação na Liga.
A equipa com mais internacionalizações participa num amigável na pré-temporada com o campeão nacional.
JÚNIORES:
A equipa com mais internacionalizações na época, adquire o direito de preencher uma vaga na NextGen Series ou outra competição que lhe venha a suceder.

Estas medidas seriam a base perfeita para catapultar a nossa Selecção. E são mesmo necessárias pois nenhum outro país com futebol de top dá tão pouca importância aos atletas produzidos internamente. É que pela minha parte, gosto de ver nome de Portugal a brilhar bem alto, alem de clubes mais portugueses. Para quem nenhuma destas questões tenha relevância (penso serem os eternos padecedores de clubite aguda e pouco patriótica) a situação tal como está é perfeita, com um Benfica, Porto e Sporting completamente brasileiros, argentinos (a nova moda são os holandeses).

Até breve.

1 comentário:

  1. Muito bom post, os meus parabéns. Concordo com todas as medidas, à excepção de:

    1. Juniores

    75 % de portugueses é curto, ainda para mais tendo em conta a tua sugestão de, no máximo, dois reforços estrangeiros por temporada.

    2. Taça da Liga

    Referes que " a equipa com mais internacionalizações p/ época recebe a final da Taça da Liga." Imagina que era o Sporting a receber esse prémio, e a final da Taça da Liga era Porto x Benfica, ia haver muita polémica.

    De resto, concordo com tudo

    SL

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