sábado, 3 de março de 2012

Desfocados

No início da época a fasquia, auto-colocada, para o futebol profissional do Sporting era aproximar-se dos seus eternos rivais em termos de pontuação, disputar as taças com ambição e ir o mais longe possível na Liga Europa. Obviamente que o apuramento para a Liga dos Campeões via 3º lugar era o patamar mínimo exigido em termos de classificação final.

Num plano mais subjectivo o que foi pedido a Domingos passava por estruturar uma nova equipa de futebol para ser mais competitiva, mais regular e sobretudo evolutiva, ou seja, com o tempo e adaptação dos jogadores ir subindo patamares exibicionais e classificativos.

Isso não aconteceu. A maior parte das contrariedades não podem ser imputadas a Domingos. Há uma direcção nova ainda à procura da sua identidade política no futebol português, a arbitragem teima em responder muito negativamente à realidade de que favorece muito mais Porto e Benfica...prejudicando o Sporting (o que é uma reacção um pouco infantil para uma classe aspirante a profissional), financeiramente o clube vive momentos muito difíceis e como se tudo o que é exterior não bastasse, o plantel sofre uma vaga de lesões sistemáticas em jogadores titulares, uma realidade clínica nunca vista.

É verdade que o treinador da equipa não conseguiu resistir à tentação de evidenciar aquilo que todos viram, as alternativas do plantel não estiveram à altura das exigências. Polga não fez de Rodriguez, André Santos e Carriço não fizeram de Rinaudo, Carrilho e Pereirinha não fizeram de Izmailov e Jeffren, Ribas não fez de Wolfswinkel, Bojinov não fez o que se pedia a um jogador com a sua experiência e status desportivo. A culpa desta decalage competitiva pode ser apontada a Domingos? Na minha opinião não. O que não quer dizer que não seja evidente que mesmo as segundas linhas do plantel não são suficientes para vencer ao Moreirense ou ao Gil Vicente, sobretudo em casa. Mas essa é a verdadeira culpa de Domingos, o ex-treinador não soube "segurar" animicamente a equipa, nem fazer sentir às segundas linhas que eram de facto as primeiras retirando o ónus da responsabilidade pela mudança de estatuto.

É evidente que jogar sem Capel, Rinaudo, Jeffren, Izmailov e Rodriguez torna a equipa mais fraca. É evidente que Carrilho, Wolfswinkel, Arias, Rubio, Neto, André Martins e outros jovens têm talento. É evidente que o futebol português é um futebol ingrato para os que jogam apenas com talento e não deixa de ser mais evidente que o Sporting preocupou-se com o presente e o futuro e esqueceu-se do passado. O passado de um relvado lastimoso, o passado de descrédito ao primeiro sinal de insucesso, o passado de um afastamento dos sócios sistemático, o passado de um clube que vê o sistema sistematicamente boicotar a sua recuperação desportiva.

A boa fase da equipa durante os meses de Setembro e Outubro, a dinâmica de vitórias, amoleceu a tenacidade do clube, todos se "embebedaram" de certezas...a mais grave sendo a firme convicção de que o rumo era o correcto e isso bastaria para trazer "o Leão de volta". O problema foi que apenas 3 patas do animal chegaram a entrar em Alvalade, faltou a que costuma faltar - a convicção. Quando se dúvida abre-se espaço para questionar o básico e na minha opinião figuras importantes da actual estrutura da direcção foram lentamente minando a autoridade do treinador, talvez muito mais pela deficiente relação pessoal existente entre si, do que pelos resultados obtidos.

Como sempre o Sporting implode por dentro. Por vaidades pessoais, por egos que levam as pessoas erradas julgar as competências de outros, por desespero de querer ganhar quando muitas vezes isso não é  o mais importante. Em qualquer situação, em qualquer cenário das nossas vidas, por vezes temos de aceitar o erro acreditando que faz parte do processo de crescimento, olhando o longo prazo e não ficar obcecado com o momento presente. Este desfoque da realidade e do que é necessário, ou seja, a insegurança manifesta de achar que um clube só é grande quando ganha, é a pedra de toque do futuro do clube.

O Real Madrid, o Manchester, o Barcelona, o Bayern, o Ajax, o Flamengo, o Boca Juniors, todas as grandes referências do futebol internacional viveram períodos de grande crise de resultados sistemática. Só superados quando se firmaram em projectos e na resistência de acreditar em si próprios. O Sporting repetirá esta realidade acreditem os adeptos, os dirigentes ou os atletas ou não.

Até breve.

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