terça-feira, 27 de março de 2012

Cont(r)a-corrente


Analisar as últimas declarações de Bruno de Carvalho sobre o ano de gestão desta nova Direcção é um exercício válido apenas porque é a manifestação ou voz de muitos sócios e apoiantes do Sporting. Apenas por isso, já que insisto neste blog que o comportamento e posicionamento do ex-futuro-candidato serve uma agenda pessoal muito mais que as necessidades do clube em ter uma oposição activa e mediática.

Há uma corrente que defende que sendo o Sporting um clube democrático, as opiniões de qualquer associado devem ser escutadas quer pró quer contra o status quo do clube. Esta é uma utopia que não cabe no panorama actual do desporto e da sociedade portuguesa. Por várias razões seria, na minha opinião, desnecessário esta oposição tão veemente e pública de BC:

1/ Esta direcção não foi eleita com a maioria do apoio dos sócios;
2/ A agenda financeira e desportiva da SAD é tornada pública por obrigação da CMVM;
3/ Dirigentes, técnicos e directores têm tornado bastante notório as razões por detrás de cada acto de gestão.

Por estes 3 motivos, é tão claro para BC como para mim a eficiência e o sucesso deste ano de gestão do mandato de GL. Não preciso que o senhor BC ou qualquer outro Sportinguista me diga que:

Financeiramente:

-       Ao ficar em 4º ou 5º na Liga, o clube perde uma importante fonte de receitas (não acesso à Champions) e como tal no próximo ano será mais difícil suportar o orçamento actual.
-       Para conseguir aceder a tantos novos atletas a SAD contraiu novos empréstimos, em condições muito desfavoráveis (panorama que se manterá devido ao difícil acesso a capitais dos nossos bancos credores)
-       A recessão (ou falência técnica do clube) deverá obrigar a que se venda dois ou mais dos melhores atletas no final da época.
-       A mudança do Estádio para a SAD é uma operação que visa apenas dar mais segurança ao pagamento das dividas.
-       Ainda não foi recebido o valor da transferência de Djaló.
-       As vendas de Postiga, Torsiglieri, Zapater e Vukcevic foram bastante abaixo do esperado.

Desportivamente:

-       A classificação na Liga é muito abaixo do desejado.
-       A possível chegada às meias-finais da Liga Europa está no nível de exigência pretendido.
-       A presença na final da Taça de Portugal está no nível de exigência pretendido.
-       A participação na Taça da Liga é muito abaixo do desejado.
-       Houve uma subida na valorização de Patrício, Pereira, Ínsua, Carriço, Onyewu, Izmailov, Matias, Capel, Carrilho e Wolfswinkel.
-       Houve um decréscimo na valorização de Evaldo, Rodriguez, André Santos, Pereirinha, Elias, Jeffren e Bojinov.
-       As contratações de Luís Aguiar, Bojinov e Rodriguez ficaram longe do rendimento pretendido.

Tudo isto será o fundamental na análise mais isolada ao sucesso do clube. Tudo isto eu consigo entender sem a ajuda alarmista de BC ou qualquer outro. Apenas o bom-senso será preciso para imaginar que na próxima época o Sporting terá de:

-       Reduzir a massa salarial do plantel (vendendo ou emprestando 2 ou 3 dos atletas que mais auferem) ex: Wolfswinkel, Jeffren, Bojinov ou Patrício.
-       Procurar soluções para um novo plantel a custo zero e com remunerações mais ajustadas ao nível médio do plantel ex: Adrien, Cedric, Nuno Reis.
-       Valorizar Rubio, Neto, André Martins, Nuno Reis, Carrilho, Árias e Turan.
-       Ter a equipa B em competição como forma de colocar atletas que já deram provas nos juniores de grande potencial.
-       Ter um novo discurso de exigência adequado à valia do plantel sem as recorrentes candidaturas a títulos que vão e vêm conforme a classificação.

Como é óbvio o ano corrente não está a ser brilhante e só não se constituirá num ano mau se a conquista da Taça de Portugal e a presença na final da Liga Europa for uma realidade. Qualquer outro cenário não apresentará mais valias significativas em relação a anos anteriores. No aspecto económico e porque o mesmo é afectado pelo plano desportivo a sensação que se fica é a de um marasmo de receitas com tendência a agravar-se pela falta de novos encaixes (as receitas antecipadas já foram todas realizadas).

Por isso, senhor Bruno Carvalho, dispenso a sua “coragem institucional”, que não reconheço tão grande como outros reconhecem e dispenso também a constante nota no seu discurso que faz o que faz em nome do seu amor ao clube. Em nome de muitos “amores” já muita gente disse e fez muito disparate, o momento do Sporting precisa é de menos emotividade e mais racionalidade.

Sinceramente não acho que seja fácil resgatar o clube da situação em que se encontra e não é por aparecerem vozes que clamam pela incompetência de quem está a tentar fazê-lo que pensarei de forma diferente. Gosto de pensar que todos se empenham pelo clube, errando mais ou menos, e ninguém pode de facto dizer que tem a receita para inverter este cenário, porque se assim fosse ela já teria sido implementada. Infelizmente não é só o Sporting que tem pela frente uma longa travessia pelo deserto de dificuldades económicas, a esmagadora maioria dos clubes, das empresas e dos países esperam ansiosamente pela saída de uma recessão que já vai longa e bastante agressiva.

Poupem-me a manobras de “implosão” dogmáticas em que tudo o que não brilha é lixo. Cada vez menos reconheço em BC um presidente do Sporting.

Até breve.

3 comentários:

  1. Se o Sporting ganhasse a Liga Europa seria uma época menos má? Para mim seria uma das melhores épocas de sempre! Quantos títulos europeus tem o Sporting? Quantos campeonatos tem? É certo que já não é campeão há 10 anos, mas para um clube que não é hegemónico no futebol português e que por isso não domina os seus bastidores, ganhar uma competição europeia é muito mais difícil que com os rivais. Quase que acontece uma vez na vida. Se tiver de escolher numa época, prefiro ganhar a Liga Europa do que ganhar o campeonato.

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  2. Totalmente de acordo! Fui apoiante de BC, mas estes últimos meses foi sofrivel para um adepto como eu, que "só" quer que o Clube vença,ver as declarações deste homem. parece que descobre a pólvora sempre que fala.

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  3. Violino,
    No plano desportivo e consequentemente financeiro não podemos esquecer o peso "apafiano" de várias decisões perante uma ansiosa equipa em construção. Desde o início da época que não queriam que fôssemos à LC, quantos mais anos nos afastarem e desgastarem mais difícil será recuperarmos.

    Quanto às saídas de jogadores, achei que o Zapater não deveria ter saído. No caso do Torsi talvez pudéssemos ter ganho um pouco mais.

    A Direcção não foi eleita com os meus votos e também não votei no BC, mas se tivesse votado nele estaria profundamente desiludido com a sua postura desde as eleições. É óbvio que pode comentar como e quando quiser, mas confesso que me faz sempre lembrar as entradas a despropósito do Sr. Seixas de "O Pai Tirano": "Oh inclemência! Oh martírio! Estará por ventura periclitante a saúde desse nobre e querido menino que eu ajudei a criar?"
    Não só acho que tem um péssimo timing nas suas intervenções, como não acrescenta rigorosamente nada à saúde do clube.

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