quarta-feira, 10 de outubro de 2012

E Depois do Olá

Assim que termine a novela do treinador, todos começarão a olhar para a equipa com dois exercícios principais: 1- Quais as mudanças que podem ser introduzidas pelo novo técnico; 2- Que tipo de estrutura vai acolher e potenciar o seu trabalho.


Quanto ao Ponto1:

Sá Pinto não teve propriamente um onze definido, nem uma táctica enraizada. Para quem quer que chegue ao clube esse será o primeiro trabalho. Com o plantel que o Sporting tem actualmente é difícil montar um onze com um médio organizador à frente do(s) trinco(s). Nem Adrien, nem André Martins estiveram até agora à altura de um Matias Fernandez. Principalmente porque Sá Pinto definiu esta posição um pouco mais recuada, bem dentro do raio de acção dos restantes médio e não posicionado entre a linha média e linha avançada. Uma ideia seguramente inspirada nos pivots do Calccio, mas que valha a verdade não funcionou.
Assim, parece óbvio que a ter dois extremos na equipa e uma referencia posicional no ataque, sobra uma posição. Viola e Labyad foram testados nesta lógica, sendo que o Argentino mais avançado e colado às linhas e o Marroquino mais recuado, vagueando atrás do ponta de lança no centro do terreno, podendo descair nas alas em apoio ao extremo.
Não sei se quem vier insistirá nestas soluções, mas será mais provável que um treinador mais experiente termine a fase de experimentação e defina claramente um posicionamento com dois avançados ou em alternativa o regresso ao losango clássico.

Em termos de utilização de jogadores, parece-me que seguro que Patrício permaneça na baliza, Cedric permaneça como aposta principal na defesa direita (apesar dos erros, precisa de continuar a crescer, jogando). Ínsua e Pranjic continuarão a lutar pela lateral esquerda. Mais dúvidas quanto à apreciação dos centrais. Boulahrouz continuará a gozar de uma aposta tão efectiva? Ou Xandão terá mais vezes lugar ao lado de Rojo? Carriço permanecerá relegado a 4º central?
No meio campo, Gelson e Rinaudo parecem finalmente a postos para lutar por uma posição (talvez desta vez não tão sacrificados em missões suicidas) e dependendo da escola do novo técnico, Schaars, Elias e Adrien dividirão os papeis de organizadores e criadores de jogo pelo meio-campo (espero que finalmente Elias encontre a sua posição). Izmailov com Sá Pinto experimentou o eixo central, mas para se situar nesta zona do terreno terá de ter mais apoio para jogar (o russo não está especialmente, se é que alguma vez foi, um portento de força). As alternativas André Martins e Labyad serão para ir testando passo a passo.
Nas alas é evidente que Capel está uns furos abaixo da época passada e que Carrilho, apesar de melhor, continua bastante irregular durante os 90 minutos. Será um erro não continuar a dar tempo de jogo a Jeffren (parece querer recuperar o tempo perdido) e já ia sendo hora de testar Esgaio em algumas partidas.
No ataque, os maiores problemas. Wolfswinkel é o homem golo, mas mal servido não poderá marcar mais do que 1 golo de 3 em 3 jogos. A dinâmica da equipa em ataque tem de ser desenhada à volta das movimentações do holandês e não apenas dando posse de bola aos alas, rezando que a fazem chegar ao ponta-de-lança. Não há alternativas ao holandês (Viola é claramente um extremo que pode descair para o centro) e a dupla Rubio / Betinho demasiado verde para as exigências.

Olhando este cenário, e se fosse eu o escolhido para orientar a equipa, pediria de imediato para Janeiro, mais um jogador para a lateral direita e um ponta de lança para lutar com Wolfswinkel. De resto será sobretudo uma questão de movimentação, apoios e desenhos tácticos que potenciem as características dos atletas, coisa que com Sá Pinto nunca foi muito visível (e estou a ser simpático).

Quanto ao Ponto 2:

Um treinador estranho à nossa Liga tem logo à partida dois problemas – desconhece os meandros políticos da nossa imprensa e entidades desportivas e desconhece a esmagadora maioria dos nossos clubes. Se um bom adjunto já é importante, nestas circunstâncias é mesmo decisivo. Alem disso, e especialmente no início terá de ter o máximo apoio de Freitas para rapidamente conhecer o historial competitivo dos jogadores do plantel, sendo que Duque deve, limpar o espaço de intervenção do técnico principal de quaisquer questão sobre normas internas, castigos ou pressão de investidores.
Só assim existirá um verdadeiro começo, em que o treinador não herda problemáticas a que é estranho, que o obrigariam a desfocar da missão principal que é, colocar a equipa a jogar um futebol mais agressivo e coerente.

Resta dizer que esta direcção irá estar completamente dependente dos resultados obtidos pelo próximo treinador. Depois de 2 técnicos (que ainda auferem o seu ordenado) despedidos por maus resultados e mau futebol, pode-se dizer que à terceira vai ter de ser de vez. A repetição de um cenário idêntico ao que sucedeu com Domingos e Sá Pinto seria a assumpção de uma incapacidade para liderar o clube, já que o desempenho de uma direcção mede-se em pontos, apuramentos para provas de topo e troféus. Sem golos não há vitórias, sem vitórias não há destaque, sem destaque não há vendas nem patrocínios, sem estes não há dinheiro e sem dinheiro o Sporting será um clube ingovernável nos próximos anos.

Uma boa razão para dar todas as condições ao próximo treinador, muitas mais do que as que deram aos anteriores, especialmente depois de maus resultados. Não chega contratar jogadores e uma equipa técnica, há muitas batalhas que se sucedem a este primeiro trabalho, mesmo muitas, onde somo normalmente menosprezados e ridicularizados, muito mais que nas 4 linhas.

Até breve. 

2 comentários:

  1. Mas quê, agora és treinador de futebol?!?
    É só Guardiolas a mandar bitaites sobre taticas e jogadores. é por isso que nunca vamos a lado nenhum, venha quem vier o reslutado será sempre o mesmo.

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  2. Caro Violino,

    Uma análise superior dos problemas que, seja qual for o treinador que o Sporting se atrever a contratar, se lhe hão-de colocar. Como sempre, reina a inteligência e a lucidez em mais uma excelente contribuição para o conhecimento e sentido crítico dos adeptos leoninos. Obrigado.

    Saudações Leoninas.

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