quinta-feira, 22 de março de 2012

Problemas e soluções

Devido aos vários pedidos que recebi (não foste só tu Álamo) dou então aqui o meu contributo para uma reflexão urgente sobre o que o Sporting pode fazer para evitar (porque será impossível eliminar) os “assaltos” de arbitragem de que tem sido vitima.

Vamos por partes, como eu gosto, estrategicamente ponderar toda a envolvência do problema.

Intervenientes primários:

Sporting e Árbitros

Intervenientes secundários:

Porto, Benfica 

Problema:

Os árbitros prejudicam o Sporting de forma directa quer em jogos da Liga e FPF, muito mais do que fazem aos rivais beneficiando-os. Governo e PJ revelam-se incapazes de eliminar as suspeitas (já confirmadas diversas vezes) de que o futebol em Portugal não é limpo, justo ou sério.

Dúvidas:

1/ Os árbitros prejudicam o Sporting intencionalmente?
2/ Os que ganham os árbitros que prejudicam o Sporting?

Resolução – Resolver o problema é responder às duas dúvidas e encontrar bloqueios ou retrocessos à evolução das condições que permitem a continuidade do problema. Assim:

1/ Os árbitros prejudicam o Sporting intencionalmente?

Partindo do principio que o Sporting é muito mais prejudicado que beneficiado, podemos concluir que:

-Se os erros acontecem maioritariamente a nosso desfavor seria uma coincidência fantasmagórica que dezenas de árbitros diferentes tivessem apenas errado fortuitamente. A resposta é então: Sim.

2/ Os que ganham os árbitros que prejudicam o Sporting?

Há várias explicações possíveis e é quase garantido que todas ajudem a explicar o problema: Há uma bipolarização de poder no futebol português. Benfica e Porto disputam taco-a-taco todos os pilares decisores e repartem peso politico junto das entidades reguladoras. Seria estranho que no principal pilar (a arbitragem) o mesmo cenário não se verificasse.


2.1/ A partição de poder entre vermelhos e azuis é a substituição pelo antigo regime tripartido onde o Sporting estava incluído. A perda de participação no status quo do futebol, só foi possível pela perda de prestigio desportivo (o Sporting deixou de ser um campeão virtual) e pela ausência de sucessivas direcções que desprezaram o seu envolvimento nas velhas guerras sujas do futebol nacional.


2.2/ Ao assumir um papel de “outsider” o Sporting ficou fora de todas as lutas, fora de todas as “vantagens” conhecidas por conseguir exercer coação sobre as instituições, cargos ou organismos. O sector da arbitragem é desde sempre o mais permeável a estas “pressões”.


2.3/  O clube afastou-se da guerra, preferindo um papel mais nobre, o de legislador. De facto sucessivas direcções sugeriram diversas alterações ao nosso sistema de arbitragem, o que também de forma contínua surtiu o efeito contrário ao desejado. A classe reagiu mal a todas as sugestões propostas no sentido de melhorar e moralizar o sector. Paradoxalmente ao tentar ajudar, a única coisa obtida foi má vontade e muita crispação.


2.4/ Ao sentir a desvantagem de não ter influência na classe (directa ou indirecta) nem isenção nas suas partidas o clube ciclicamente adopta uma postura de confronto. O resultado tem sido sempre o mesmo: os árbitros escudados num sistema em que o Sporting é apenas mais um dos que não são Porto e Benfica, realizam um braço de ferro que dura até o clube "dobrar" o seu discurso, iniciar um período de vitórias ou perder os objectivos da época.


Podemos então tirar deste cenário que os árbitros, verdadeiramente não lucram directamente quando prejudicam o Sporting, mas de forma indirecta estão a defender o sistema que dá primazia a apenas dois clubes. Interessa aos dois rivais um Sporting destabilizado e em guerras permanentes com a arbitragem. No fundo, os pontos que os árbitros puderem "retirar" ao Sporting serão sempre vistos como positivos pelo sistema, ou pelo menos nada com que alguém se tenha de preocupar em demasia. Um juiz que sabe que errando contra um clube estará a salvo de consequências é um agente condicionado no futebol.


Solução:


Perante tudo isto é mais ou menos óbvio que o Sporting só terá arbitragens mais decentes quando for visto como parte do sistema, a par de Benfica e Porto. Não vale a pena acreditar na deontologia da classe (simplesmente não existe) nem na regulação da Liga ou FPF (pois fazem parte do sistema implantado). Enquanto o clube ou os seus interlocutores continuarem a optar por um discurso de "outsider" em que não queremos "sujar as mãos" num sistema corrupto e corruptível teremos de continuar a ver e a entender os custos em arbitragens como a mais recente do senhor Paixão.


Agora a questão não é se o Sporting quer ou não fazer parte do sistema, a verdadeira questão é se o sistema deseja ou permite que o clube o faça. Nesta época é óbvia tentativa de aproximação feita por Duque às Associações e Liga, mas também não deixa de ser evidente que ao clube foi barrada o acesso a posições e peso nas eleições da FPF e Liga de Clubes.


Só resta aos leões uma saída e em boa hora existiu uma fracção na Liga, pois neste momento Benfica e Porto precisam de contar espingardas para as batalhas que se avizinham contra os "clubes pequenos". A solução, se existe, passa por estreitar relações políticas com os dois rivais e tentar posicionar-se na linha da frente das discussões. O mesmo está a ser tentado pelo presidente do Nacional, que perspectivou correctamente o subito vazio de comando no discurso dos "grandes". Caberá ao Sporting roubar esse papel e em sucessivas "lutas" ser ele (Duque ou outro director, não GL) a dar a cara. Todos sabemos quem irá ganhar esta "guerra" e no fim da mesma pode ser mais fácil percepcionar as vantagens de visibilidade e aparência de poder que a mesma conferiu.


Outras soluções poderão ser válidas, mas esta é a única que resolverá efectivamente este problema sem criar outros.


Até breve.

2 comentários:

  1. Caro Violino,
    Em boa hora te lancei o repto e a minha satisfação é maior ainda por confirmares que não terei estado sózinho.
    Como seria de calcular, li atentamente este teu último artigo e, como quase sempre, revejo-me na tua análise. Nua e crua, a visão que apresentas, do meu ponto de vista, estará correctíssima. Já terei um pouco mais de dificuldade em acompanhar-te na solução que perconizas, não porque me pareça incorrecta, mas porque pecará por tardia.
    Desculpar-me-às, mas tenho muita dificuldade em acreditar que qualquer dos dois "capos" do sistema, permita a mínima intrusão, sabendo o objectivo do pretenso candidato.
    Outra dimensão, objectividade e exequibilidade teria a tua solução de fosse precedida da conquista de uma campeonato, em que o Sporting exercesse uma supremacia que os outros reconhecessem, sem apelo. Bataria apenas o Sporting ser campeão uma vez, para ganharmos o tempo que ingloriamente perdemos nos íltimos anos.
    De qualquer modo, não ficaste por promessas e a "bisca" que hoje lançaste, pode ter pernas para andar. No mínimo, convida-nos a uma grande e séria reflexão.
    Bem hajas pelo tiro de partida.

    Um abraço reconhecido

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  2. Corrijo no 4º parágrafo "bastaria".
    Perdão pela falha.
    SL

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