segunda-feira, 19 de março de 2012

Saber quando vender


Quando leio sobre o interesse dos clubes de Milão no jogador Agostinho Cá arrepiam-me uma ideia que tenho desde a venda de Luís Boa Morte. Mas que tipo de negociantes somos nós que preferimos vender jogadores em prospecto por 1 ou pouco mais milhões de euros em vez de capitalizar vários dois ou três anos mais tarde.

Existem dois cenários a que o Sporting deve prestar bastante atenção antes de vender o passe de um jovem atleta:

1/ A sua valorização a curto prazo – O jogador ao sair dos juniores entrará numa equipa B ou será emprestado a um outro clube. Apenas 2 ou 3% passarão directamente ao plantel principal. Mas mesmo assim, é completamente diferente o valor de um atleta com 1 ou 2 anos de futebol profissional. O clube só deveria alienar os jogadores com que não contará para nenhum destes cenários.

2/ A sua valorização a médio prazo – Partindo do principio que estamos a falar de atletas com elevado potencial, podemos seguir o raciocínio lógico de que o que interessa ao Milan ou ao Inter também deveria interessar ao Sporting. Assim, é por demais evidente que emergir na equipa principal do clube deverá ser sempre um sinal de grande talento e este facto deve ser demonstrado na hora de vender e estabelecer um valor justo pela rescisão.

Vender um atleta de 18 anos muito promissor por 1.2 milhões de euros ao Liverpool não é um bom negócio. É uma péssima publicidade à Academia e um desprestigiante encaixe para o clube. Qualquer Sedan da segunda divisão francesa que venda um jovem a um clube europeu, não o faz por menos de 2 ou 3 milhões. A verdade é que é muito tentador olhar para os juniores de Alcochete como uma fonte incessante de talentos, onde um talento vendido dará sempre lugar a um outro de igual valia.

Este pode ser um pensamento ruinoso. Qualquer publicitário dirá ao Sporting que uma marca vale tanto como a forma como avalia aquilo que produz. O Sporting avalia-se (por desespero financeiro ou não) muito por baixo.

É consensual que nem todos os juniores serão grandes vedetas, alguns atletas serão sempre catalogados como dispensáveis, mas ao olhar para o historial recente do clube, grande parte dos formados em Alvalade tem um excelente aproveitamento. Um paradoxo recente: o Génova empresta Ribas ao Sporting (um avançado que nunca chegou a jogar sequer um jogo) e contrata Diogo Rosado a custo zero. Vejam o que valem os dois atletas e vejam quem fez o melhor negocio.

A arte de saber vender é um aliado indispensável a quem tem uma Academia como o Sporting. Sem esta habilidade serve de pouco formar dezenas de atletas todos os anos se apenas se rentabiliza o óbvio. Varela e muitos outros casos renderam zero aos nossos cofres, o que prova que se o Sporting é dos melhores formadores do mundo, também é dos priores vendedores do mundo.

Deseja-se muito mais atenção e inteligência na gestão dos recursos do clube. Aos 18 anos muitos atletas têm já mais de 10 anos de leão ao peito. Toda a aprendizagem que receberam deve ser encarada pelo clube como algo de excelência e não um facto temporal que se esquece olhando para “promessas de Messi” do outro lado do atlântico.
Até breve.

1 comentário:

  1. Sinceramente não me parece que vender jogadores sub-18 por 1 ou 2 milhões de euros, seja uma política errada.

    Em cada 100 jogadores que o Sporting forma, há 1 ou 2 que se destacam e que podem vir mais tarde a valer muitos milhões. Basta pensar que há já vários anos que o SCP não forma nenhum craque e nos jogadores que se formaram entretanto. Tivesse o Sporting vendido vários deles (ainda que em fase de formação) por 1 ou 2 milhões e teria recebido um bom dinheiro.

    No que diz respeito aos jogadores a que se refere o texto, o Agostinho Cá e o Diogo Rosado (que já vai no 3º ano de senior e ainda não mostrou nada), considero que nunca terão / teriam lugar numa equipa como o Sporting.

    SL

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