terça-feira, 13 de setembro de 2011

O eterno pobre que poupa

A liga portuguesa é competitiva? A pergunta já foi mais vezes feita no passado. Ultimamente, e assim que se reduziu o número de equipa no 1º escalão, deixou de estar na moda. Mas alguém já se questionou se a medida aplicada surtiu efeito? Não serão precisos estudos profundos para responder a esta pergunta. A resposta é não. O número de espectadores não aumentou, as receitas também não, o interesse pelos jogos muito menos. Temos uma liga mais curta e uma taça da liga.

A intenção da redução das equipas era boa. Na teoria, menos clubes, menos divisão de receitas, mais concentração de jogadores de qualidade em cada equipa. Equipas com mais talento geram equipas mais competitivas. Na prática o modelo falha. Porquê? Porque o problema nunca foi a dispersão ou a falta de dinheiro. O problema sempre foi a atitude desportiva. A forma de como as ditas “equipas pequenas” moldam as tácticas e o modelo de jogo para encaixar num sistema ultra defensivo e castrador do espectáculo é antigo e nem sei dizer quando teve origem.

É mais evidente quando uma equipa pequena defronta um dos “grandes”, mas é mais grave quando duas equipas que não o Sporting, Benfica e Porto (abro uma excepção para o Braga e Guimarães actualmente) se defrontam entre si. Aí o espectáculo é mesmo muito mau. A razão é só uma. As equipas estão formatadas para defender, para anular, para “boicotar” o próprio balanço ofensivo do jogo. É puramente casual este tipo de jogos ter mais de 1 ou 2 golos. Num resumo de 3 minutos deve ser fácil a um editor de televisão escolher 10 lances para montagem, simplesmente porque deve ser precisamente essa a média de jogadas de perigo por jogo. É muito pouco.

A mentalidade defensiva à portuguesa é muito singular, no último Paços de Ferreira – Sporting a equipa Pacense simplesmente parou de jogar, a ganhar por 2-0, simplesmente abdicou de procurar o 3-0 e o treinador local ainda recuou mais a equipa tirando avançados para colocar defesas e médios defensivos. Resultado perdeu 2-3 quando tinha tudo até aos 70 minutos para vencer a partida. É apenas um exemplo de como a maior parte dos plantéis da I Liga não sabe dominar um jogo. Aos treinadores isso nem preocupa, pois sabem que garantindo 1 ponto regularmente e 3 de vez em quando, a sua pele estará a salvo. Falta de ambição dos clubes? Muita!

Um Paços de Ferreira será sempre “este” Paços de Ferreira. Um Olhanense será sempre “este” Olhanenese, equipas que permanecem no primeiro escalão mas não evoluem, apenas permanecem. Ano após ano os objectivos são os mesmos, sobreviver. Não são crescer, aumentar o número de espectadores, melhorar o plantel, vender jogadores por fortunas, não é possível. Não é simplesmente possível a um jogador brilhar neste sistema de jogo. Essa é mais uma razão que leva os 3 grandes a adquirir poucos jogadores no mercado interno. É um risco elevadíssimo. Num grande a um jogador é lhe exigido muito mais do que apenas atacar de vez em quando ou defender a baliza de qualquer forma. O que chumba 95% dos jogadores dos restantes plantéis.

A isenção de ser ambicioso, de querer evoluir e não apenas tentar não regredir é endémica a muitos outros sectores, não é um traço apenas desportivo, mas ao contrário dos restantes no futebol pode-se alimentar essa necessidade. Há muitas formas de o fazer. Desde logo a repartição das receitas televisivas por classificação. Os contratos de cedência individuais só beneficiam os compradores e nem os 3 grandes saem a lucrar. Ficar em 6º ou ficar 14º, na grande maioria dos casos, é exactamente a mesma coisa. Portanto a meta de 75% das equipas da primeira liga é ficar acima da linha de água, o que sejamos verdadeiros é o assassinar do estímulo à victória.

Alguém sente alguma vontade sã de visionar um U.Leiria – Beira Mar do principio até ao fim? E quantos, dos que respondem não, apreciam um Sunderland- Stoke City, um Lazio-Udinese ou um Real Sociedad – Málaga? Faço-me entender nas diferenças? Até quando é que vamos aplaudir Mota, Paulo Sérgio, Daquirá, Brito quando vencem uma partida frente a um grande limitando-se a passar toda a responsabilidade do espectáculo para o adversário? Sempre pensei nestes treinadores como limitados e auto-limitados, as excepções foram tão poucas que, mais recentemente, só me lembro de Mourinho no Leiria, Peseiro no Nacional, Jesus no Belenenses ou Domingos e Vilas Boas na Académica, curioso não é?

Até breve. 

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