sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A missão dos adeptos

Ainda com alguma azia pós fecho de mercado, vem-me à ideia o tempo que já leva a última venda milionário do Sporting. Nani já saiu há uns anos e desde essa altura não existe um jogador que se valorize acima da média nos nossos plantéis. As performances têm sido regra geral péssimas e acto contínuo o valor dos atletas decaiu imenso. As vendas que antes se situavam entre os 15 e 25 me passaram a cair no intervalo 1 e 10me. É uma queda dramática, mais acentuada se pensarmos que apenas Moutinho atingiu essa marca.

Não penso que o valor dos atletas tenha diminuído, nem sequer o dos jovens que saem da academia. O que mudou foi tudo o resto. Treinador, constantes mudanças no plantel, direcções. E mudou também a força dos nossos rivais. Porto, Benfica e até Braga estabilizaram o quanto puderam e ganharam tempo para planear com valor estratégico as suas equipas. Precisamente o que o Sporting não soube fazer. A razão de tanta instabilidade? Por muito que me custe dizê-lo, somos nós os adeptos. Incluo-me como é óbvio. Não soubemos contrariar a queda financeira, não soubemos evitar a "lógica" espartana de investimento no plantel, não soubemos ajudar a que os bons ficassem e os maus, por selecção natural, saíssem.

O Sportinguista habituou-se a perder, mas a perder com a ilusão que podia ter ganho. O que não estamos de forma alguma capazes de fazer é perder entendendo que esse é um desfecho natural. A equipa em construção é um conceito que ninguém parece querer entender. A maior parte dos adeptos exige vitórias, golos, boas exibições esquecendo-se que construir pressupõe que se trabalha sobre algo não está pronto, não está firme, sem sequer a funcionar correctamente. Não significa que se deva tolerar todo e qualquer mau resultado, porque esse desfecho destrói efectivamente mais do que constrói, mas significa que, especialmente no início, estaremos no ponto zero, que eventualmente chegará ao 100.

Digo eventualmente porque começo a ter dúvidas da segurança que passa dos adeptos para a equipa. A lógica da "crise" já assentou praça em Alvalade e o fatídico conto negro dos media já começou a ser narrado, moendo a vitalidade dos fãs mais susceptíveis de contágio. Degrau a degrau vamos baixando o apoio e encarando esta época exactamente como encarámos a anteriores, sem motivação, sem garra, sem paixão. Isto não é apoio incondicional (como muitos afirmam dar) é ultra condicionado. Apoia-se nos bons momentos e nos maus vai-se ao estádio insultar a equipa, acenar com lenços brancos, em último caso deixa-se mesmo de ir ao estádio e pagar as cotas.

É uma espécie de boicote anímico. Um boicote que impede qualquer projecto de passar do esboço. Os assobios, as quebras de receitas, o massacrar da imprensa que rentabiliza com a auto-destruição, a tremideira da equipa, são todos sintomas associados ao mesmo síndroma patológico - a falta de ética desportiva. Jogar é ganhar e perder, quem joga melhor quase sempre ganha, quem não está em primeiro tenta vir a chegar a esse patamar. Na era das equipas instantâneas, o Sporting decidiu construir uma. Não podia ter feito outra coisa e todos sabemos isso. Mas cobramos muito acima do que um adepto deve fazer. Cobramos da pior forma, denegrindo os que tentar realmente resgatar o clube de uma crise profunda.

O milagre não aconteceu. Domingos não tinha uma varinha mágica, nem nenhum dos jogadores contratados é um Ronaldo ou Messi por descobrir. É um passo, se tivermos paciência e não quebrarmos já, pode ser que daremos outros, pode...mas para isso a equipa precisa de nós. Inimigos não nos faltam, ou esperavam que Porto e Benfica ficassem sentados a ver-nos melhorar de dia para dia. Vejam e leiam os media com atenção e seguramente tirarão conclusões valiosas.

Até breve.

1 comentário: