quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O baralho mágico

Todo o mágico que se preze tem um baralho. Não são 40 cartas normais. São cartas que se dividem, marcadas, viciadas totalmente à vontade do seu proprietário. Mas aparentemente e a uma distância segura passam por um vulgar e prosaico baralho de cartas.

Se substituirmos a expressão “baralho” por “sistema” e se substituirmos “mágico” por Pinto da Costa a frase anterior tem a mesma coerência e significado. De facto todos os caminhos de qualquer mudança de poder no futebol português terminam misteriosamente na figura do dirigente portista.

Apesar de todos os esforços de Benfica nos tempos mais recentes, e dos dois clubes de Lisboa em anos anteriores, a verdade é que Pinto da Costa consegui estabelecer-se como o verdadeiro “Padrinho” do submundo do nosso futebol. Entre muitas outras proezas conseguiu ser “apanhado” em vários casos de corrupção activa de árbitros e sair incólume dos tribunais desportivos e cíveis. 

Entre outras possessões consegue “controlar” a maioria dos clubes da I e II Liga para seguirem exactamente a sua agenda política nas esferas da Liga e (com igual resultado) grande parte das Associações na FPF. É admirável esta capacidade para subverter ao seu mando e desmando tanta gente, tantas instituições. É admirável e catastrófico que uma cabeça completamente anti-desportiva regule os caminhos do desporto-rei nacional.

Tal como um mágico, Pinto da Costa mostra uma coisa, mas esconde outra, num jogo que apenas serve para enganar alguns tolos que preferem ser enganados a ter de se opor ao sistema. Este show de magia dura há mais de 30 anos e os espectadores presentes até já sabem os truques de cor, mas receiam sair e ainda receiam mais não bater palmas a cada número realizado.

Se olharmos o mapa de clubes da I e II liga e se conhecermos as alianças naturais de cada clube, o retrato é espantoso. Sporting e Benfica juntos não têm nem metade das “afinidades” do Porto. Tal como nas associações, o que se vende são favores de permanência do status quo em troca da primazia de pessoas da confiança do FC Porto em lugares cimeiros nas estruturas mediadoras e reguladoras.

Tudo isto embrulhado numa apatia política e jurídica do Estado em relação ao desporto (que convém pelo peso de votos de uma boa relação com o presidente portista) gera um sistema muito idêntico ao regime proposto por um qualquer chefe de máfia.

As eleições para a presidência da FPF só mostram mais uma vez a incapacidade total de Benfica e Sporting fazerem face à teia criada. A cada passo dos clubes lisboetas existe uma mina, uma falha, uma reacção do sistema. Godinho Lopes e Vieira têm um desafio pela frente e ele chama-se - “implosão”. Este sistema não se muda “por dentro”, é antigo, forte e está bem coeso. Só derrubando todas as estruturas se pode construir algo de novo e (utopicamente) sem vícios.

Ao Sporting e ao Benfica escapa, por agora, esta compreensão. Vão tentando lugar a lugar, batalha a batalha, fazer pender a balança para posições mais intermédias. Mas falham. Falham sempre. A arbitragem pode passar da FPF para a Liga e vice-versa quinhentas vezes, os lugares dos conselhos de Disciplina e Justiça podem ser mudados constantemente, os observadores podem ser observados por não sei quantos outros observadores, nada irá mudar. Simplesmente porque o sistema está construído para se moldar a várias realidade, como um vírus que muta, mas mói e mata.

Ao Sporting e ao Benfica resta uma única solução. A drástica. Abdicar da participação no sistema. Isso significa abdicar da participação nas provas nacionais, ou delinear essa posição a médio prazo. O sistema precisa dos dois clubes lisboetas. Nenhuma Liga, Taça ou estrutura competitiva sobreviveria ao abando dos dois clubes com maior número de adeptos. Financeiramente era inviável.

Como competir fora do espaço nacional? Não é preciso. O englobamento na Liga BBVA espanhola é uma medida tonta e anti-popular. Não será preciso tanto. Basta que Sporting e Benfica comecem a desenhar uma nova prova, um novo modelo competitivo e antecipar alianças com clubes e partidos políticos. A FPF e Liga são tão permeáveis que ao traçar uma linha entre Porto e Sporting e Benfica, todas as “cartas” do sistema irão optar pela via que lhe pode continuar a pagar os ordenados.

Não será precisa sequer a intervenção de UEFA ou FIFA, pois um plano rígido e sem compromissos com as actuais figuras dirigentes gerará “novas cartas” que o mágico não controla nem estará apto a controlar pois o novo sistema terá de ser criado como um anti-sistema. É preciso coragem, inteligência e arte para fazer esta revolução. Em último caso ambos os clubes devem preparar os seus adeptos para a probabilidade de ter de competir em amigáveis durante um ano, ou mesmo serem relegados de divisão, mas também a exposição dessa preparação é uma arma mediática de peso.

Seja como for e enquanto esta “bomba atómica” não for usada, o FC Porto continuará a ganhar 9 em cada 10 anos, a acumular prémios da Champions sucessivos, simplesmente porque é mais fácil ganhar quando se sabe que temos “via aberta” para o fazer. Confia-se mais nos árbitros, arrisca-se mais um pouco em jogo, conta-se de um forma evidente com fracas penalizações e ofertas caídas do céu. Quem conhece as marcas do baralho, joga superlativamente melhor. Escutas ou não, o Porto fechou todas as contratações que o Benfica quis fazer. Corrupção ou não, jogando mal salvam-se os penalties a favor. Alinhamento ou não, árbitros que erram em jogos do Porto em favor deste recebem sempre boas pontuações.

O fim é o único início possível. Ou definharemos numa amarga secundarização, participando do sistema, fazendo parte do baralho mesmo sem o sabermos.

Até breve.

1 comentário:

  1. grande texto.

    apesar de detestarmos o slb esta luta não é contra eles mas sim com eles.

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