sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O jogo da dignidade

O futebol é apenas um jogo. Uma parte pequena da vida. Quando o país se afunda num caos de realidade e injustiça é difícil pensar num jogo. Durante as últimas décadas contemplámos com uma lascividade suprema outros jogos, outros passatempos que certas elites praticaram. Corrupção, tráfico de influências, cartel, apropriação de bens públicos, remunerações pornográficas, completo e atroz desrespeito pelo património da nação.

Hoje o nosso (des)governo fez-nos entender a dimensão dos seus bolsos vazios. Para repô-los (será que ainda é possível) terá de esvaziar os nossos. O “povo” como dizem os nossos consagrados políticos, está a começar a puxar o pano que esconde o descalabro da nossa governação. Ouço repetidamente a velha máxima “cada país tem os políticos que merece”. A definição a ser verdadeira no nosso caso, quer dizer que os Portugueses merecem muito pouco. Como não posso generalizar pelos outros, penso no meu caso.

Sempre paguei as minhas dívidas, sempre vivi bem dentro das minhas possibilidades, não tenho créditos por compras de automóveis, viagens ou aparelhos informáticos. Tenho o mesmo automóvel há 11 anos, o mesmo telemóvel há 5. Trabalho todos os dias 8 ou 9 horas, nunca fui funcionário público e não consigo pensar o que fiz para merecer estes políticos. O que fiz para merecer o resgate daquilo que é meu por direito, quando não vou a hospitais públicos, não chamei bombeiros, não fui transportado de ambulância, o meu filho frequenta uma creche privada. Enfim…

Já por várias vezes hesitei na boca das urnas entre o voto útil e o voto em branco, nunca me senti inspirado por nenhum político, nunca vi um pingo de verdade em nenhum debate e agora tenho a prova cabal de que muitos momentos de desconfiança tinham razão de ser. É o fim do meu sentido e entendimento político do país. Política advém da palavra Polis, a gestão dos bens comuns, os caminhos e as soluções para expandir e evoluir o património de grupos de pessoas.

Os nossos ditos políticos, partidos, deputados, assembleias, câmaras, juntas, coligações são para mim lixo humano. Livros de cheques endereçados ao compadrio que se passeiam de gravata em BMW topo de gama e aguardam a sua vez nas cadeiras de grandes escritórios de empresas públicas ou privadas que vivem de “empreitadas” públicas. Se esta generalização é injusta, que me digam os tais políticos justos e sérios que apontaram o dedos aos restantes.

O jogo para mim acabou e em nenhum partido vejo autoridade moral para “abusar” de sequer 1 minuto do meu tempo. Não votarei, não usarei o meu direito e o meu dever de cidadão de escolher governo, simplesmente não consigo “eleger” entre um monte de merda e outro. Podem roubar-me o dinheiro e a qualidade de vida, mas não me roubarão o profundo “nojo” que sinto por aqueles que vão para as suas vivendas de luxo, comer o jantar cozinhado pela empregada, ler o último romance do Lobo Antunes num sofá D&D, ocasionalmente passar a mão pelo cabelo dos filhos ainda vestidos com as cores do St.Julians e consultar o saldo da conta na Suíça (que engorda). Depois dormem tranquilos nunca lembrando as dificuldades que causam na vida de quem os elegeram.

Até breve.

1 comentário:

  1. Caro Violino,
    Toda a minha solidariedade! Não está só amigo e seremos muitos e muitos por esse triste e ingovernável país fora. Não teremos culpa, mas também não teremos força suficiente para a mudança. Fazem-nos cada vez mais egoístas, cada vez menos solidários, cada vez mais desprezíveis e sem futuro! Razão tinha o famigerado general romano que terá reportado ao seu imperador, a nossa incapacidade para nos governarmos ou deixarmos governar!...
    Cada vez o céu é menos azul e a água mais molhada!...
    Por mim, vou vivendo com a esperança de que outro Salgueiro Maia há-de vir uma dia!!!...
    Um abraço amigo

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