terça-feira, 19 de abril de 2011

Caça ao árbitro, caça grossa

Existem muitas realidades que tornam o futebol português único no mundo. A maior parte delas são negativas. Uma das mais absurdas é a leviandade de tentar (e conseguir) condicionar árbitros. De tanto que se fez e se disse, dos insultos, das difamações das acusações prévias…hoje em dia só um louco quererá ser juiz de futebol. No panorama actual de árbitros existe pouca qualidade e muito nervosismo. Isso é culpa do ambiente hostil do jogo perante aquele que deveria ser o seu garante.

O árbitro é essencial ao jogo. Á verdade, ao cumprir das regras do mesmo. Cada vez mais em Portugal as regras se subordinam à hierarquia vigente, tal como num país que vive numa ditadura o poder judicial se transforma numa extensão do status quo do regime. Essa hierarquia é fácil de ser observada, Porto e Benfica consoante o seu estado de graça lideram na percentagem de erro a seu favor. Provavelmente se o Sporting vencesse 2 ligas seguidas, seríamos nós os beneficiários dos equívocos.

Esta é uma patologia mais psicológica do que provavelmente um caso de corrupção generalizada. Já o foi em tempos, mas o mundo da internet, dos blogs, das escutas torna mais difícil certos hábitos que estiveram instalados em 2 ou 3 associações e em 2 ou 3 clubes. Hoje um árbitro beneficia um clube porque tem medo, porque quer ascender na carreira, porque quer cair nas boas graças da sua associação regional. Se existe condicionamento activo ele está na actualidade na escolha dos observadores e nas notas com que os mesmos classificam os árbitros.

Tudo isto impede o actual painel de juízes de actuar com a imparcialidade que é necessária. Por saber isto, todos os clubes se divertem durante uma época a de uma forma hipócrita apelar à justiça, a denunciar pressões e condicionamentos dos árbitros, a apelidar este e aquele como “inimigos do clube”. A coisa resulta tanto ou tão pouco que às vezes parece que temos um campeonato de erros de árbitros em vez de um campeonato de futebol. E tem ficado cada vez pior por duas razões: os árbitros vão sendo piores e a pressão é cada vez mais bem sucedida.

Este padrão não será benéfico para ninguém. Não será para Porto, para Benfica, para o Sporting. A suspeição alimenta o sentido de injustiça, e todos sabemos o que acontece quando multidões se cansam da ausência de equilíbrio e de verdade. O apagão da luz, os apedrejamentos de sedes e núcleos, a vandalização de autocarros e agressões de dirigentes é apenas o início de um processo que tem origem nas “guerras santas” que os presidentes “paladinos” declaram precisamente suportados por um ambiente de injustiça.

Se perguntarmos a um adepto do Porto quem é beneficiado pelas arbitragens ele acusará o Benfica. Se fizermos o mesmo a um benfiquista ele responderá o Porto e se fizermos a um Sportiguista ele apontará o dedo a quem for à frente da classificação. Mas o interessante é perguntar aos restantes adeptos de outros emblemas. Tenho quase a certeza que os votos de dividiriam entre Porto e Benfica. Isto prova alguma coisa? Não. Mas aponta um caminho, quem mais se queixa e destrói o bom ambiente do jogo é provavelmente o que lucra mais com essa acção. Isto só é permitido acontecer porque em Portugal não existe FPF nem Liga de Clubes.

Existem uns senhores que durante uns poucos de anos ostentam nuns cartões, a inscrição de dirigentes máximos do futebol português, mas que não dirigem absolutamente nada. São meros observadores que vão dando umas sugestões e perante o descalabro do ambiente desportivo do país são completamente incapazes de ter mão firme e defender o futuro do espectáculo. Multas de poucos milhares de euros para gestos como o do apagão do Benfica são anedóticas. É como se a Liga estivesse a apoiar o gesto da direcção do SLB. Ninguém se preocupou no precedente, na possibilidade de no futuro não ser permitido a nenhum clube festejar um título fora de casa…com as luzes ligadas. É abismal e absurda a leitura de gravidade da Liga perante este acto.

Receio que algo só mudará quando acontecer uma tragédia no futebol português. Para se entender o que se está a promover com este clima de suspeição e hostilidade, basta ver o que acontecerá se Benfica e Porto se defrontarem na final de Dublin. Quem uma aposta? Nada. Porquê? Porque a UEFA tem mão pesada. Completamente o inverso do que passa no nosso país.

Este preâmbulo todo só serve para dizer que mais uma vez caberá ao Sporting marcar uma nova posição, uma posição mais exigente com os organismos titulares, uma posição que não acuse a prestação de árbitros apenas em causa própria, uma postura mais de construção e não de destruição. Juntar a nossa voz às trogloditas vozes de benfiquistas e portistas só nos diminui e alimenta o caos. Desengane-se esta direcção se pensa que por berrar aos ouvidos dos árbitros, será tão ouvida como os nossos rivais. Erro puro. Os mesmos que se acobardam no Dragão e na Luz serão desafiantes e arrogantes em Alvalade. Já o vimos antes e a nossa posição na distribuição de poder no futebol português só encorajará a mais penalidades e faltas não assinaladas.

Até breve.

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