quinta-feira, 14 de abril de 2011

A garra em inglês

Já várias vezes falei neste blog sobre a importância de ter jogadores com um atributo que os britânicos denominam “stamina”. É um termo usado para descrever uma ideia complexa que mistura dois factores: a disponibilidade física e a resistência psicológica.
Pegando em dois exemplos para ilustrar este conceito, olhemos para Berbatov e para Chicharrito. Os dois são pontas de lança da mesma equipa, mas com estilos de jogo completamente diferentes. Berbatov é um jogador mais lento, menos interventivo, menos veloz, menos combativo, todos os atributos que o mexicano tem no inverso. Em termos de stamina Chicharrito é forte, Berbatov fraco. Claro que o búlgaro compensa o facto com atributos técnicos fora-de-série e uma inteligência de igual monta.

Uma equipa de futebol deve ter jogadores como a vedeta mexicana, jogadores que exibem energia, alegria a jogar, que “empurrem” a equipa quando as horas más apertam.
Olho para o plantel do Sporting e constato que só João Pereira, Carriço, Maniche (acho que é o primeiro elogio que lhe faço neste blog) e o saudoso Liedson dão claras garantias neste parâmetro. Não é pouco, é irrisório. Para se ter uma medida de comparação (e não mais do que isso) analisemos os nossos rivais. FC Porto com jogadores como Álvaro Pereyra, Otamendi, Guarin, Belluschi, Moutinho, C. Rodriguez, Falcão e Hulk. Benfica com Luisão, Maxi, Coentrão, Garcia, Salvio, Gaitan e Jara. Todos estes jogadores tem um grau de stamina acima da média. O que faz com que estas equipas sejam combativas e mais resistentes psicologicamente.

Mais do que isso, Benfica e Porto conseguem muitas vezes ganhar sem jogar bem, vencer seus jogos, às vezes de forma esmagadora. Isso acontece porque, obviamente marcam golos e não sofrem, mas também porque não estão dependentes de criar superioridade táctica e técnica sobre os adversários. Aqui joga o stamina. A vontade que se superioriza de querer a qualquer jogada decidir a partida. É este aspecto que penso tem faltado ao Sporting nestas duas épocas. A garra, a capacidade de assumir que se é superior ao adversário e não tremer debaixo dessa responsabilidade. Não vejo este tipo de jogadores no Sporting. Uns claramente porque não a têm e outros porque se foi esgotando à medida que as derrotas foram aparecendo. Como o caso de Evaldo e Zapater.

Quem vê o luso-brasileiro e o espanhol e se recorda do que foram no Braga e Zaragoça, sabe que parecem outros jogadores, mais conformados, menos interventivos, menos sólidos psicologicamente. Melhorarão conforme outro tipo de resultados surgirem, mas já não será nesta época.

Para o próximo defeso desenha-se uma verdadeira revolução no plantel, aposto que entre 30 a 40% do actual plantel mudará. Espero que o próximo treinador esteja a validar os avanços que este cenário já está a ter e que neste campo do stamina, a equipa seja realmente reforçada. Não podemos ter nunca Djaló, Postiga, Fernandez, Vuk e Valdez simultaneamente em campo a construir todo o ataque, não que não o saibam fazer, mas porque o fazem (com organização e superioridade) apenas de 10 em 10 minutos. Faltará sempre a garra para disputar a bola, arriscar, surpreender.

Até breve.

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