terça-feira, 15 de novembro de 2011

O play em Off do nosso futebol

Logo à noite temos jogo. Temos também a obrigação de mostrar que somos alguma coisa de jeito, ver a Bósnia no Europeu será um trauma que dificilmente não levará o país futebolístico à histeria e a uma revolução prematura. É pena, mas uma vitória na Luz adirá montanhas de medidas que estão na gaveta há pelo menos 10 anos. Os campeonatos dos escalões jovens, o número de equipas nos escalões seniores, a limitação de jogadores estrangeiros nos escalões de formação e seniores, o quadro técnico das selecções, a regularização orçamental dos clubes profissionais, a negociação colectiva dos direitos de transmissão televisiva, etc.

Todas estas medidas são essenciais à sobrevivência do nosso futebol, que de outra forma continuará a ver clubes centenários fechar portas, os melhores jogadores vendidos todos os anos, 2 ou 3 clubes a disputar sempre os mesmos lugares e as selecções a perder estatuto europeu e mundial. Implementá-las quebrará todo o equilíbrio político do futebol luso, “arranjos” com décadas de validade terminarão em desuso, zangando-se muitas comadres. Uma reestruturação com as medidas que aponto, facilmente construiria uma valorização pelo mérito e competência, onde os clubes viveriam do que construíssem, onde a lógica actual, de 1 clube grande com 15 satélites que sobrevivem do empréstimo de “favorecimento”, de jogadores e da partilha de uma ideia de sobrevivência mendicante a quem prometer qualquer tipo de “ajuda”, terminaria.

Aflige-me clubes com a história do Beleneneses, Vitória de Setúbal, Académica e Leixões venderem tão facilmente o seu futuro, deixando-se apadrinhar por alguém que apenas os usa como “pesos mortos” e depois os abandona quando se tornam incontornavelmente ingovernáveis. A geminação de processos e amizades com os “padrinhos” do nosso futebol só traz ruína e a assunção de menoridade, ou seja, o fim do sonho de um clube em ser sempre maior.

AF do Porto tem na Liga ZonSagres e Orangina: FC Porto, Rio Ave, Paços de Ferreira, Feirense, Penafiel, Moreirense, Freamunde, Leixões, Desp. Aves, Oliveirense, Naval, Arouca, Trofense (14).

AF de Lisboa: Sporting, Benfica, Belenenses, Atlético e Estoril (5)

Esta diferença pouco se explica. Sporting e Benfica amealham quase todos os adeptos de Lisboa, tornando a Grande Lisboa um deserto para os pequenos clubes. O Alverca ou o Estrela da Amadora são só dois exemplos de clubes “artificiais” que viveram muito mais de habilidade política e apadrinhamento do que de excelência competitiva. Os clubes do Porto mantém-se apesar deste panorama, pelas mesmas vicissitudes, mas a concentração de poder de decidir quase tudo no futebol adia o inadiável, ou seja o eclipse (competitivo sobretudo porque a dimensão é sempre a mesma) da lógica de satélite político.

O paradigma “eu ganho e vocês sobrevivem” só é possível porque a independência dos clubes pequenos do Porto é ilusória, na verdade dependem das receitas de TV muito mais do que dos pouco sócios que possuem e a ameaça de descida de divisão é quase uma sentença de morte. Assim, colaboram num sistema viciado de manutenção de poder, que obriga a que nenhuma medida permita o crescimento do nosso futebol. Essa melhoria nunca conseguiriam acompanhar porque lhes falta o básico: adeptos, estádios, escolas de formação e sobretudo vontade de crescer.

Arrisco a dizer que soluções como as equipas B são completamente inversas aos interesses destes “mendigos” que substituem muita da sua incapacidade para ter bons jogadores com jovens valores dos 3 ou 4 grandes que precisam de minutos de jogo. O Sporting conseguir fazer aprovar a alteração estatutária que permita a inserção de equipas B até à permanência na Liga Orangina será para mim uma completa surpresa. Tal como todas as medidas que referi no 1º parágrafo deste post, esta medida decretará o fim do poder dos “pequenos”, o fim do futebolinho de estádios decrépitos, sem espectadores e sem espectáculo, sem cultura de mérito e sem dinheiro.

Olhar para um jogo da Eredivide, da Permier League Escocesa ou da Júpiter League com olhos de ver poder-nos-á dar um vislumbre do muito que falta fazer no nosso futebol. Certamente que o resultado de logo à noite pode acelerar esta compreensão, mas não o desejo. Gostava apenas que alguém com responsabilidades ou poder pudesse fazer cumprir os dois desígnios: estar no Euro 2012 e mudar tudo no nosso futebol. Certamente que em 2016 seríamos muito mais fortes.

Até breve.

1 comentário:

  1. Estamos a ganhar 2-1, acabou de acontecer um falhanço estratégico típico de Postiga e uma mãozinha de Coentrão, e não poderia concordar mais.

    Excelente artigo.

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