segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Desabafo técnico

Para se entender o que vai mal no Sporting, é só preciso ler as declarações de Paulo Sérgio e olhar para as estatísticas do plantel. O melhor marcador do Sporting chama-se Valdes e tem 4 golos. A equipa na Liga tem 17 golos marcados em 13 jogos e exactamente 13 sofridos. 6 vitórias, 4 empates e 3 derrotas. São números que demonstram sem qualquer dúvida uma época miserável.

Perante isto o que diz Paulo Sérgio? Que não anda feliz…que a equipa tem de mudar…e outras análises superficiais que sei que não são as mesmas que fará junto da equipa, mas não se vislumbra um controle do balneário capaz de superar as dificuldades. E quais são elas?

1/ A equipa não tem uma organização definida.

Evaldo não sabe se é extremo se defesa. Pereira tanto joga atrás como na frente da sua faixa. A dupla de centrais não estabiliza, ao lado de Carriço já passaram NAC, Polga, Torsiglieri. O meio campo esta entregue a médios defensivos que não são bons transportadores da bola (nem têm de ser, mas não existindo um “maestro” são obrigados a fazer essa função). Valdes e Vukcevic não são extremos de raiz. Postiga, Liedson, Djaló e Saleiro têm muitas dificuldades em marcar golos (não há jogo na cabeça da área, logo surgem poucas oportunidades para ser finalizador).

2/ Os esquemas tácticos estão adaptados às características dos jogadores.

O Sporting tem dois bons laterais, muito ofensivos. Tem muitos e bons médios defensivos. Não tem extremos e não tem um ponta de lança de presença na área.
O que seria mais lógico desenvolver com este plantel seria uma linha de 4 defesas, com 2 médios que lhe cubram as alas (André Santos e Zapater). No centro um médio mais fixo (Mendes) e outro mais avançado, um transportador (Matias ou Valdez). No ataque, para potenciar o jogo nas laterais, dois avançados descaídos para as faixas (Postiga e Liedson). Não sei se produziria mais resultados, mas de certeza que seria mais fácil de interpretar pelos jogadores.

3/ Faltam jogadores para funções chave no jogo.

O futebol é rapidez, passe, posicionamento, remate, recepção e desmarcação. São estes os eixos essenciais da performance de qualquer jogador, mas com a especialização numa função, cada jogador desenvolve algumas aptidões ao máximo em prejuízo de outras. Assim um central não tem de ter uma capacidade de excelente recepção da bola, mas deve ter um sentido posicional acima da média, ao invés, um ponta de lança não tem de ter uma capacidade de passe por aí além, mas deve rematar bem à baliza. No Sporting faltam os especialistas. Liedson não é o matador clássico e está cada vez mais longe da área, perdendo a equipa a referência atacante, Postiga desce muito no campo, Valdes, Vukcevic, Izmailov, Salomão e Fernandez (os criativos) por uma razão ou por outra estão longe de serem os organizadores de jogo da equipa, quando deveriam ser eles a ter essa função. Maniche, Santos, Zapater ou Mendes são bons tecnicamente mas não têm o condão de saber desenhar jogadas ou combinações. Não há um jogador, especialista em cantos e livres. Vukcevic será a melhor escolha, mas não jogando…Assim é óbvio que falta um bom médio ofensivo centrak (Fernandez parece que está de saída, pena que o tenhamos entendido como um Deco e não como um João Pinto). Valdes pode fazer a função, mas falta-lhe a capacidade de passe e visão de jogo periférica. Faltam extremos dignos desse nome, Izmailov, Vuk e Valdes não o são na verdadeira essência, mas safam, isentando esta época esse reforço (convém preparar as próximas…por exemplo lançando Bruma, pior não fica). E falta um verdadeiro ponta-de-lança, homem de área (não acho que tenha de ser alto, dos melhores concretizadores que já vi, nenhum era especialmente alto – Rush, Muller, Lineker, Falcao, Raul, Pauleta, Inzaghi, Drogba, Rooney, não faltam exemplos). Tem de ter um sentido de área muito bom, o resto é conversa.

4/ Inteligência

Não sei se alguma vez algum treinador pode ser acusado de a sua equipa ser pouco inteligente. Mas este Sporting é de uma burrice atroz. Os jogadores são expulsos com muita facilidade (disciplina), dão demasiadas oportunidades para os jogadores errados (marcação), deixam jogar o adversário nos momentos errados (concentração/ plano de jogo), fazem pressing de uma forma desordenada (falta de coordenação colectiva) e sobretudo oscilam muito com os acasos do jogo (motivação e confiança). Estes são detalhes essenciais que tornam esta equipa fraca, pouco resistente e muito pouco fiável. Isso trabalha-se com exigência, disciplina e muita cara feia, não dando espaço para o laxismo, para a descontracção e para o erro no final da linha. Este conjunto de jogadores precisa de um “capitão” a sério, Paulo Sérgio não é esta figura apesar de “dar todos os ares”de o ser.

Fica a minha análise. Não é mais do que o que vejo todos os jogos, existirão muitas outras observações, algumas muito mais rigorosas e melhores que esta, mas não quis deixar de postar, não que ajude a alguma coisa, o grau de técnico de Paulo Sérgio habilita-o a tirar o que escrevo aqui de letra. Fica um desabafo técnico não habilitado, oxalá não se confirme em Setúbal.

Até breve.

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