terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Whats the point?

Todos estamos preocupados com a quebra dos números de assistências no estádio de Alvalade. A mim isso não me preocupa absolutamente nada, por incrível que pareça acho que o público vai ao futebol como vai a qualquer outro entretenimento, se houver “promessa” de um bom divertimento, ele virá, por oposição se não houver sequer vislumbre de futebol, de golos e vitórias, “ele” ficará em casa, comodamente a ver na TV.

O fenómeno do futebol, assim como qualquer desporto de massas é muito particular, o sentido de colectivo é psicologicamente forte, e todos os adeptos se projectam no seu clube. Se o clube estiver vencedor, a necessidade de o acompanhar é forte, se estiver fraco é mais provável criar-se um distanciamento. Nesta relação há muitas nuances, próprias dos calendários competitivos, do panorama financeiro, até do clima, mas em regra geral é assim que funciona.

Ora o que temos no Sporting é uma verdadeira pescadinha de “rabo na boca”, a equipa perde, o público adere menos, há menos receitas, menos verbas para comprar jogadores, mais probabilidade de ter maus resultados. Isto dura no nosso clube há uns bom 7 ou 8 anos, desde que se esvaziou o estado de graça da última equipa campeã. Porque somos de um clube que quer ganhar, a cada ano que passa sem o fazer é mais difícil inverter a tendência.

O pior é que os Sportinguistas se habituaram a esperar pelo D. Sebastião em forma de jogadores e treinadores que rendam muito mais do que o esperado, o suficiente para que num ano mau para Benfica e Porto, aconteça o inesperado, ou seja o Sporting campeão.
Esta é a verdade nua e crua. Mas como especialmente o Porto tem poucos anos de desacerto, passamos hiatos de 7, 8 ou 17 anos à espera do mesmo fenómeno. Isto não é receita para o sucesso, é pura resignação.

Quando foi estabelecido o projecto Roquette, o seu desígnio máximo foi tornar no Sporting um clube que vencesse o campeonato regularmente, mas todos sabemos o que aconteceu ao plano. Foi sendo sucessivamente adulterado em função dos curto-prazos, das conveniências de quem governava e sobretudo foi tornado obsoleto pelos fracassos do qual dependia para se tornar num movimento contínuo. Finda a validade do projecto, do rumo que se empreendeu, o que se seguiu? Ninguém sabe.

O Sporting vive sem um novo paradigma, atolado em objectivos caducos, em dívidas que contraiu para respeitar uma grandeza que não é real. Tardamos em entender que é preciso por no papel um guião que os vários personagens respeitem, que os ajude a actuar como um todo, numa direcção única, sabendo exactamente o que se quer, quando e como o conseguir.

Assim, tal como estamos, ficaremos sempre à espera do próximo Brasileiro que marque 40 golos, do próximo treinador que ofusque o Mourinho ou do Presidente que injecte 100 milhões de euros para aquisições. Pura fantasia. É com os 30 mil espectadores que podemos contar e não com 55 mil, é com jogadores competentes e não com craques e treinadores inspiradores e não com gurus do banco. Contemos com o que nos é acessível e talvez se comece uma caminhada segura com vista ao equilíbrio do clube.

Continuo a pensar que o caminho se começa a fazer pelo topo, numa estrutura dirigente eficaz e instruída. De alguma forma Bettencourt está a tentar arrumar a casa nesse sentido. Um presidente, um manager, um director. Falta encontrar uma verdadeira equipa técnica, com um treinador tenha dose igual de ambição, atrevimento, convicção e sobretudo provas dadas em como consegue vencer, não ficar em 4º ou 5º lugar, vencer. Tendo este treinador, é possível tentar encontrar uma base sólida de jogadores, que com algum equilíbrio entre os recursos da academia e aquisições construa uma equipa com alguma margem de progresso e não comprar jogadores que farão mais 2 ou 3 épocas.

Criada esta estrutura será possível esperar algum sucesso, não imediato, mas seguro. Tornando cada época num desafio mais ambicioso e tentando sempre investir mais um pouco, para que o retorno desportivo suba também. A isto chama-se planear, projectar, construir. Faz pela base tentando chegar ao topo. Infelizmente vejo sempre o contrário, começamos sempre pelo fim, pelo mais rápido, pelo mais fácil de “vender” aos adeptos. Dificilmente alguém se sentirá inspirado por um discurso, ou por uma conferência de imprensa. Mostrem-nos trabalho, decisões, medidas não populares, cortes radicais neste marasmo em que navegamos, neste caminho que só nos traz derrota e desmoralização.

Os Sportinguistas são inteligentes e saberão distinguir a diferença entre o que é feito para dar resultados e a “maquilhagem criativa” que todos os dias nos é servida com uma pitada de marketing e psicologia de cassete futebolística. Estou farto do “obviamente lutamos por todos os troféus” ou do “não vamos atirar a toalha ao chão” ou a clássica “enquanto for matematicamente possível”. Já não tenho paciência para os “estamos a construir uma boa equipa”, “a melhorar todos os dias”…é um infindável discurso cheio de nada, porque nada há a dizer, vive-se até ao próximo dia, alegres depois da vitória, decepcionados depois da derrota e verdadeiramente derrotados por uma falta de liderança, rumo e inspiração.

Espero que mude.
Até breve.

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