segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tábuas de Salvação

Estamos no meio de Dezembro e expressões como "tábua de salvação" e "salvar a época" já começam a surgir nas bocas e mentes sportinguistas. Mas a pergunta que se faz é: salvar o quê? Um grande treinador? O bom futebol? A relação com os adeptos? Uma estrutura competente? Há muitas semanas que enfermo de uma tendência para desejar uma derrota convincente (como se precisássemos de mais uma...) algo que faça o tal clique na cabeça de Bettencourt, que lhe desperte uma súbita vontade de despedir o treinador. Pelos vistos ainda não foi desta.

Existem 4 vértices competitivos numa estrutura profissional: Presidente, Manager, Treinador e Equipa. É óbvio que o maior problema está na equipa. Mesmo um cepo com a braçadeira de treinador ganharia a Liga se tivesse um Ronaldo, um Messi, um Puyol, um Buffon, etc. Este é um dado impossível de considerar a não ser que façamos planos para ser controlados por um qualquer Príncipe Arábico. Retiremos a equipa da equação.

Sobram Presidente, Manager e Treinador. É óbvio que pudemos mudar de Presidente e Manager, mas na verdade não existem "candidatos" na praça muito mais promissores que os actuais. Acresce o facto de serem funções que não têm acção directa na equipa de futebol. Chegamos por fim ao treinador. Se no início da época havia alguma curiosidade sobre a capacidade de Paulo Sérgio, hoje, todos já entenderam que não é treinador para grandes façanhas.

Sejamos sérios, não há nenhum técnico ao nosso alcance financeiro que ponha esta equipa a ganhar troféus. Falta um grande avançado, que marque 20 a 30 golos por época, um organizador de jogo que paute os ritmos da partida com visão de jogo e passe, um central alto, experiente e seguro que dê algum descanso ao promissor Carriço. Pelo menos estes três, custariam muito dinheiro, algo que não há, nem vai haver nos tempos próximos. Mas também parece lógico a quem segue o futebol português, que com o actual plantel é possível fazer bem mais. É possível ganhar por exemplo ao Paços de Ferreira fora e ao Guimarães em casa.

Um campeonato bom para o Sporting obrigaria a ganhar muitos jogos fora de casa, exceptuando talvez Guimarães, Braga, Porto e Benfica. Em casa o cenário revertia-se um pouco aceitando-se algum deslize com estes mesmos adversários, mas com mais algumas vitórias. Este era a esperança que todos os Sportinguistas tinham no principio da época e sejamos justos não é um patamar demasiado exigente. Ninguém pediu de certeza a Paulo Sérgio que ficasse à frente de Porto e Benfica, mas uma coisa é atingir um 3º lugar quando os adversários estão muito fortes, outra coisa é fazer o mesmo quando manifestamente Benfica e Braga estão tão mal como nós.

É este cenário de completa ausência de regularidade e bons desempenhos que acompanha a equipa de Paulo Sérgio desde o início. Olhando para o plantel, este treinador tem ao seu dispor muitos mais trunfos que os seus antecessores Paulo Bento e Carvalhal. Tem Hildebrand para concorrer com Patricio, tem um lateral esquerdo Evaldo, tem um Carriço em afirmação, um bom Polga, uma incógnita Torsiglieiri, um experiente Maniche, um Abel rejuvenescido, um João Pereira em clara progressão, uma meia surpresa chamada André Santos, um concentrado Vukcevic, uma boa aquisição chamada Valdes e um esforçado Postiga.

As lesões de Pedro Mendes e Fernandez e a fraca prestação de Liedson são pontos negativos, mas é fácil de constatar que há muito mais potencial nesta equipa, então porque é que os resultados não surgem? Azar? Os adversários só jogam bem contra nós? Os árbitros estão prejudicar-nos? Penso que não. Simplesmente todo o potencial está a ser incapaz de ser revertido em boas exibições e resultados e para mim essa é a função do treinador. No último jogo frente ao Setúbal, o Sporting dominou a posse de bola, fez muitos ataques, mas foi sempre controlado pelo Vitória, um clube que luta para não descer, mas bem orientado e bem instruído dentro de campo.

Pode-se discutir se o facto de marcar primeiro não desvirtua qualquer análise, mas todos vimos que o Sporting não reagiu encostando o rival à defesa criando ocasiões para empatar, ao invés andou perdido dentro de campo a tentar inventar buracos na defesa setubalense de uma forma completamente desesperada e foi apenas natural que sofresse o segundo golo, fosse o Setúbal uma equipa mais segura e tinha feito em contra-ataque uma autêntica sessão de raids à baliza de Rui Patrício.

E é isto. O que se exigiu a Paulo Sérgio no início da época? 3º lugar na Liga, meias finais nas taças internas, oitavos ou quartos final na Liga Europa, ou qualquer coisa deste género. Está a ser alcançado? Com que mérito? A equipa dá bons espectáculos? Está em notório crescimento? A resposta é não, transversalmente não. A acrescentar à prestação, existem demasiados "nãos" na massa adepta, demasiados pedidos para que se despeça o treinador, suaves porque o desânimo é total, mas histericamente audíveis para qualquer responsável leonino.

O que prende Bettencourt? O que o amarra a Paulo Sérgio? Pena? Falta de dinheiro para pagar a cláusula de rescisão? A convicção de que ele vê em PS mais do que todos os analistas, adeptos juntos? Pode-se discutir se o que ganharíamos com a saída do técnico será assim tão marcante para inverter a tendência para os maus resultados. Eu acho que sim. Ou melhor, tenho essa certeza há dois meses, desde a derrota com o Benfica. Não acho que devemos esperar pelo fim da época, tal como não achava que devíamos esperar pela paragem no Natal.

E quem para substituir Paulo Sérgio? Não será difícil, existem muitas soluções viáveis, haja coragem e decisão. Com mais ou menos dinheiro é possível encontrar melhor do que Paulo Sérgio, desde o jovem técnico ambicioso ao mais experiente com mais curriculo. Haja, repito, coragem e decisão. Tudo o que não tem havido nos últimos tempos em Alvalade.

Até breve.

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