terça-feira, 7 de setembro de 2010

De todos nós, mas com cotas














Um dia, não muito distante a Selecção irá entrar em campo com Patrício, Bosingwa, Coentrão, Carriço e Pepe, A.Santos e Veloso, Moutinho, Ronaldo, Nani e Quaresma.
Pode parecer um onze improvável agora, mas a idade e sobretudo o talento de cada um destes jogadores irá naturalmente acabar por colocá-los (aos que ainda não estão) na alta-roda do futebol.

Pode parecer um raciocínio clubista, mas não vejo no futuro outros valores a despontar e apenas Sílvio na lateral direita parece querer intrometer-se nesta luta de “grandes”. Apenas Bosingwa, Pepe e Coentrão não são formados em Alvalade e apenas André Santos, Carriço e Patrício (os melhores da equipa sub21) ainda não fazem parte dos convocados de Queiroz.

É fácil entender que o futuro da Selecção é o futuro dos jogadores do Sporting. Ainda é mais fácil de entender que este futuro só chega em pleno quando os atletas saem do clube. É quase como se existisse um estigma que faz o Seleccionador desvalorizar os recursos jovens de Alvalade, serão demasiados? É tão estranho assim que se produza fornada atrás de fornada de bons jogadores?

Pelos vistos é estranho. É tão ou mais visível este sintoma pela aparente “cota” de seleccionáveis que cada clube tem. Acredito que Queiroz não tem a coragem de convocar uma primazia clara de atletas leoninos, para não “enervar” os rivais Porto e Benfica. Nem sempre foi assim, lembro-me de Selecções com 6 ou 7 jogadores do Porto e outra mais antigas com 7 ou 8 jogadores do Benfica. Estas selecções nunca “enervaram” nenhum sportinguista.

Com os anos 90, o investimento na formação de atletas em Alvalade assume uma maturidade europeia e mundial. Figo, Peixe e P.Torres e outros foram os primeiros (com a ajuda de Queiroz) a transpor para os seniores o grande talento que exibiam nos juniores. Daí em diante o Sporting especializou-se. Foi raro o ano em que 1 ou 2 juniores não despontaram na equipa. Quanto mais altas eram as vendas, mais se apostou na formação e na era de Paulo Bento a equipa é maioritariamente composta por jogadores de formação.

O talento foi sempre reconhecido no Sporting, mas o “lote” de jogadores nunca aumentou proporcionalmente e só quando saem para outros clubes europeus se tornam justificáveis. Veloso e Moutinho são a expressão mais recente do que já aconteceu com Simão, Quaresma, Nani e Quaresma. É esta gestão política dos convocados que está também a contribuir para que muitos atletas queiram sair de Alvalade assim que conquistam um lugar no onze verde e branco. 

É sobretudo um sintoma de provincianismo, que não vejo na Alemanha com jogadores do Bayern, na Itália que alterna maiorias de Juve e Milan, na Espanha do Barcelona, na Holanda de PSV e Ajax. O que comanda esta pacóvia forma de gerir a Selecção é a insegurança do treinador, a vontade da FPF de agradar aos Caciques azuis e vermelhos, a moeda de troca de um status quo construído através de favorecimentos e incompetências.

A “Porcaria” que Queirós disse um dia que tinha de ser varrida da FPF ainda lá está, amontoa-se por detrás de jogadores de grande talento que vão disfarçando um futebol podre, com cheiro a mofo dos anos 50. No meio deste entulho existe um projecto de formação maior, luminoso, que os sportinguistas acarinham década atrás de década e custa muito mais do que títulos, custa trabalho.

Quando houver renovação, limpeza a sério nos quadros da Federação, talvez aí se abram portas para o mérito e para o trabalho. Quando a isso chegarmos, não tenho dúvidas, ganhará o Sporting e ganhará muito mais a Selecção de todos nós. Este é o único futuro plausível, dentro de épocas a UEFA conquistará o direito de exigir aos seus associados que cumpram com cotas de jogadores nacionais nas suas equipas. O caminho que se segue hoje acabará por transformar o jogo de futebol num jogo de orçamentos, com um Arsenal francês, um Inter brasileiro, um Porto uruguaio, um Benfica Argentino.

Até agora o Sporting é português, mas para competir neste mercado, até quando? Se Hildebrand ofuscar Patrício, de Zapater tapar André Santos, se Torsiglieri mandar para o banco Coelho ou Carriço, se Valdez, Izmailov e Vukcevic nunca permitirem a Solomão calçar as chuteiras, o que teremos no futuro? Aposta na formação ou aposta no engordar do orçamento?

Até breve.

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