quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Quando se perdem os valores

"Esforço, Dedicação, Devoção e Glória"

Não é uma frase. Não é um cliché. Não serve para decorar artigos de merchandising. É um lema. Um conjunto de palavras com significado. Não sei porque sou do Sporting, mas tenho orgulho no símbolo, na camisola, no estádio e mais do que tudo nos valores. Continuaria a ser fã se o clube mudasse de cidade, de equipamento, de estádio ou logótipo. Mas existem valores, identidades imutáveis que não se podem prescindir.

Ser do Sporting é vibrar sempre que se houve o nome Sporting, é ter uma preferência inexplicável por tudo o que é verde, é entender a imagem do leão como algo mais do que um mamífero da savana africana. Mas é sobretudo e antes de tudo respeitar a história, o passado e as ideias que construíram o clube. Na verdade o Sporting é uma ideia. Uma ideia que pode deixar de ser pensada. Quando isso começar a acontecer, o clube definhará e deixará de fazer sentido para crianças e adolescentes como eu fui.

Durante quase 100 anos o clube viveu, ganhou, perdeu, mas também cresceu. Aumentou o seu número de sócios, aumentou o seu património, aumentou a sua glória, disseminou a sua mensagem e o seu lema alimentou a ambição de querer ser sempre maior. Algo mudou. Desde que João Rocha deixou o clube que se perdeu algo do que é ser Sporting. Não é uma questão de presidentes, é e sempre foi uma questão de identidade. Jorge Gonçalves, Sousa Cintra, Santana Lopes, Roquette, Dias da Cunha, Soares Franco e Bettencourt são tão adeptos como eu e fizeram o que sabiam para impedir a "queda" do espírito, da tal mística. Ocasionalmente conseguiram-no.

Mas é preciso mais. Foi tentado no Centenário fazer renascer a "chama", o fervor, a paixão e o colectivismo. Mas foi mal feito. Num espírito de associativismo não existem categorias de adeptos, extractos ou elites. Não existem VIPs, honorários ou notáveis, mas desde há mais de 20 anos que o clube mantém um status quo de pouca abertura a novas ideias, novas pessoas. Esta consanguinidade geracional está a "matar a espécie". Está a fazer com que não se adapte a novos tempos e principalmente aos novos adeptos.

O adepto do Sporting está envelhecido, alheado e auto-destrutivo. Vejo-o em blogs, comentários, guerras entre facções de notáveis e "paineleiros". Vejo-o na queda de espectadores no estádio, de audiências, de número de sócios pagantes efectivos, provavelmente na queda de receitas de merchandising. Estes são números que não mentem e falam de uma desvalorização da Ideia Sporting. Nem tudo se explica através dos títulos.

Há muito mais a fazer do que ganhar campeonatos.

Temos de reinventar a ligação dos adeptos com o clube, dos adeptos com os símbolos vivos da sua história, dos dirigentes com os adeptos. O Sporting é uma Ideia e temos de nos preocupar como está a ser pensada hoje em dia. O que quer dizer? Onde está? Como se manifesta? Como pode crescer? Ou por outras palavras: O que é um adepto do Sporting, onde está, como vive a sua paixão clubística, como podemos aproximá-lo do clube para que "crie" uma nova geração de sportinguistas. Estas são as perguntas que ninguém quer fazer e este estado de declinio é só um reflexo da falta de coragem e honestidade que graça em todos nós.

Queremos fingir que tudo depende de um título, de uma glória próxima, que irá colocar o clube mais uma vez numa curva ascendente. Sabemos que estamos enganados e quanto mais adiarmos as perguntas, mais demoraremos a encontrar as respostas. Ouvi uma vez a um velho sócio no Estádio de Alvalade a seguinte frase: "O Sporting não é o que tu queres, é o que tu consegues." O que é que nós, incluo-me, temos conseguido como adeptos, dirigentes, funcionários, praticantes? Que parte do lema temos respeitado?

Até breve

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