quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A arte de gerir no futebol













Quando a imprensa começa a dar muitos palpites quanto à táctica e entradas e saídas do onze de uma equipa, normalmente isso é reflexo da fragilidade que as opções do treinador revelam. No ano de Quique Flores, isso era regra básica. Todas as semanas à quarta ou quinta-feira os jornais começavam a planear o jogo, com todas as nuances típicas de um bom treinador de bancada. Normalmente falhavam. Primeiro porque a visão do espanhol do que era o futebol português estava errada e depois porque qualquer técnico detesta corresponder à previsibilidade das suas opções.

Seja como for, é um braço de ferro que nunca será ganho pelo técnico. Se errar revelará falta de “sentido táctico”, se acertar estará só a cumprir a sua função. Assim começa a desenrolar-se a passadeira vermelha que conduz a um rótulo de incompetência e à pressão para sair no final. Para Paulo Sérgio já começou. Se olharmos à imprensa desta semana, está lá tudo.

Complemento ideal a este cenário são as declarações dos jogadores que preservando o seu “estado de graça” atiram frases de motivação para os adeptos do género “Queremos mostrar que somos capazes…”, “Só pensamos no título…”, “Temos de criar uma dinâmica de vitórias…”. Mais do que reflectir um panorama de vontade colectiva, estas afirmações são um instrumento (um pouco labrego) de convencer as massas que a equipa “está unida” e não se deixou abater pelos desaires.

Esta tentativa de osmose, regra geral, não serve para nada. Apenas as vitórias e os bons desempenhos levantam o moral de um adepto, era bom que o departamento de comunicação do Sporting entendesse isto. Era milhares de vezes mais útil e refrescante ouvir alguém do clube dar o tal “peito às balas” que Bettencourt tanto gostava de dividir com Paulo Bento. Aliás este ano, nem o treinador, nem Costinha, nem Bettencourt parecem muito disponíveis para grandes análises, especialmente nas semanas a seguir aos maus resultados.

Estes mini-blackouts, são estratégicos sem dúvida, mas o que querem dizer para os adeptos? Penso que as seguintes frases poderiam ser uma resposta honesta:

“Aguentem-se lá com mais uma derrota e vão se habituando.”
“Porra correu muita mal, mas o que vocês querem?”
“Azarucho, mas pode ser que para a semana isto melhore”
“Não se preocupem, esta época era mesmo para esquecer”
“A sorte é que até Junho, só faltam 10 meses”

Se o Manchester tem o “Teatro dos Sonhos”, o Sporting tem um verdadeiro “Teatro do Burlesco” onde todas as semanas se vai despindo a roupa de vencedor e exibindo a nudez de erros sistemáticos. Gostava que parasse e que alguém tivesse a coragem de entender o muito que falta fazer, começando por entender o que é o clube, o que é um clube, o que é o futebol e como se ganha. Se não o sabem, não estão lá a fazer nada, é que por aproximação, ou tentativa e erro, até eu podia lá estar. Ganharia bem menos.

Até breve.

1 comentário:

  1. Não há ninguém - mas mesmo ninguém - com sabedoria e experiência do futebol a comandar os destinos da modalidade que é o motor principal do nosso clube; essas qualidades são alicerces de um bom departamento de futebol e não se aprendem apenas por ter sido jogador ou em quaisquer bancos de escola, nem por usar fatinhos e gravatas, tem de haver um misto de saberes composto por quem conhece bem um balneário, jogos, vitórias e derrotas, mas também conhece os árbitros e também conhece os dirigentes e também tem experiência da vida.

    Eu confesso que quando saiu o Sá Pinto tive a esperança (vã) que os dirigentes - num acto de contrição pleno de justiça - escolhessem o nosso antigo capitão 'Manel' Fernandes. Tenho esperança que esse dia chegue e possamos ter aquela que é a maior referência viva do futebol do nosso clube à frente dos destinos da sua modalidade, pois actualmente o clube está completamente descaracterizado, a cada dia que passa perde parte da sua identidade e não sei quanto tempo temos para a salvar.

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