quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Pílula vermelha ou azul?

Já não tenho paciência para comentar as conferências de imprensa de PS. É sempre mais do mesmo, num discurso que muito ao género do ministro da defesa de Sadam Hussein que com as tropas americanas a cercar Bagdad dizia à imprensa estrangeira que eram os iraquianos que estavam a ganhar a guerra. Dá-me a sensação que PS e a sua equipa técnica andam a tomar muitas pílulas azuis, aquelas que no filme Matrix dava direito a continuar a viver a ilusão de estar tudo bem.

O fenómeno de um treinador que já não tem condições de trabalho, mas “actua” como se as tivesse é antigo e o resultado também. Uma coisa é a equipa de jogadores gostar do seu treinador, ter alguma empatia com ele, outra coisa é o mesmo treinador ter habilidade e mão na equipa para alterar os processos que criou e que falharam. Já se entendeu que PS é dos que prefere quebrar a torcer. E já quebrou.

Mas não quebrou sozinho. Teve a ajuda de uma direcção que lhe foi estilhaçando o caminho, deixando pequenas pontes perversas, vias únicas que limitaram as escolhas técnicas e o discurso. Não foram as causas principais da queda da equipa, mas foram rombos fortes, que PS nunca conseguiu ter a criatividade para usar em seu benefício.

Não tenho como garantido que este treinador com um plantel melhor, fosse capaz de melhorar substancialmente a prestação da equipa. Vejo, e tenho escrito desde o início da época, que PS é mediano nas 3 grandes áreas em que um técnico de um grande deve ser excelente: a flexibilidade táctica; a capacidade de impor ideias; a gestão da imprensa.

Em todas estas matérias PS falhou “dramaticamente”. Um grande treinador, que é o que o Sporting deveria ter sempre (não se constroem boas equipas com técnicos medianos…especialmente com o orçamento do Sporting), tem um 6º sentido para o jogo, uma visão 360º do seu universo de opções.

Ao colocar Grimi em campo, ao dar corda solta aos laterais Pereira e Evaldo, ao implementar 3 trincos no meio-campo, ao colocar Cristiano em detrimento de Salomão, ao insistir na entrada de Saleiro, ao não conseguir que a equipa marque um golo de canto ou livre directo (já alguém reparou que o Sporting não ganha livres à entrada da área?), ao ver estas e outras asneiras, é fácil perceber que existe muita limitação técnica na forma como PS vê o Sporting, vê o jogo que produz e confia, sem alterar nada de fundamental, que a equipa comece a dar os cliques que foram prometidos.

Apesar dos votos de confiança, dos comunicados e das estabilidades utópicas, PS já está de saída há bastante tempo. É um yogurte fora de prazo, que azeda os ânimos e estraga as perspectivas de mudança. Demorou muito tempo ao próprio entender isto e a única coisa que realmente o faz continuar é uma sensação de injustiça que tem para com os que lhe prometeram dois anos de trabalho calmo ao serviço de um grande clube. O Sporting de JEB foi tudo menos calmo e a grandeza ficou perdida algures entre as férias do presidente no Brasil e os silêncios de Costinha.

PS trouxe trabalho, seriedade e até alguma inspiração operária a um Sporting mecânico de Bento e a desorganização criativa de Carvalhal. Não chegou, como é óbvio. Era preciso mais do que apenas correr muito, ter muita bola e fazer muitos ataques. Esse é o princípio, depois há que saber o resto, que é quase tudo. Ao Sporting de PS faltou o último passe, o remate certeiro, a defesa sólida, as jogadas de combinação fabulosas, os cantos ameaçadores, os livres assassinos, os golos contra-corrente do jogo, os ressaltos a isolar avançados, os penaltys fortuitos. Faltou o que leva pessoas aos estádios, a inspiração, a surpresa.

Tal como os seus antecessores, PS não trouxe o “mas” que falta quando não existem rios de dinheiro, estabilidade directiva ou estádios cheios. Assim, falhou, como falharão todos os que vierem a seguir que não sejam treinadores com experiência, imaginação e perseverança. Que não sejam, sem “mas”, grandes treinadores.

Aos candidatos que se puserem com cautelas financeiras na contratação do próximo treinador deixo uma ideia: quanto valem 55.000 gameboxes?

Até breve.

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