quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A solução do "Sporting"

A “Solução” de José Eduardo parece-me um trabalho meritório, um acto generoso que deve ser enaltecido. E a melhor forma de lhe agradecer a contribuição é discutir as soluções que propõe. Por isso os pontos que abaixo enumero são a minha homenagem ao seu Sportinguismo e a minha visão do que se pode aproveitar e melhorar nas suas ideias.
 
1/ Plantel de 20 jogadores + Equipa B + Academia 
Parece-me muito bem, já várias vezes propus essa ideia. Reforço com uma ideia, se formos a ver no final da época a tabela de uso de jogadores podemos ver que existe um núcleo de 14 ou 15 jogadores que fizeram entre 80 e 90 % dos jogos, depois 7 ou 8 que fizeram 25 e 30 % e depois um número, que oscila entre o 5 e 6 jogadores que fizeram apenas de 5 a 7% dos jogos. Podemos concluir que um plantel com 20 jogadores servirá na perfeição uma Liga como a Portuguesa, com apenas 30 jogos e como normalmente não chegamos a fases adiantadas de competições europeias, um plantel com 2 guarda-redes, 7 defesas, 7 médios e 4 avançados serviria na perfeição uma vez que em caso de lesões existiria sempre o recurso à equipa B ou aos juniores da Academia. Além de propiciar o aumento da capacidade salarial, seria mais fácil a gestão da equipa, mais fácil a gestão de recursos tanto nas logísticas de apoio ao atleta como no treino. A equipa B resolveria muitos dos problemas de empréstimos que temos de jovens que não jogam. Claro que emprestaríamos a clubes da I e II Liga e até no estrangeiro, mas existem juniores que por menos visibilidade ou “explosão” tardia acabam por provar o seu talento mais tarde.

2/ Equipa técnica
Sobre a inclusão de um ex-jogador permanentemente nas equipas técnicas, é essencial e concordo, desde que formado para o efeito. Convém detectar nos jogadores que estejam nas fases terminais das carreiras a capacidade para “ler” o jogo e encaminhá-los para uma formação adequada como  técnicos de futebol e formadores. Sobre o treinador principal dever ter também um perfil de “formador”, muito atento às camadas jovens, sinceramente não acho que seja fundamental. Este treinador principal deve ser a cúpula dos técnicos e deve delegar esse acompanhamento para outros que lhe reportem a evolução do futebol não profissional. Se a equipa B estiver bem desenhada, a Academia continuar a dar valores e existir uma cota de presenças no plantel principal de jogadores oriundos da formação, o treinador terá a “papinha” toda feita. Depois é só jogar a mão e lançar na equipa.

3/ Modelo de jogo
Uma coisa é decidir qual o melhor modelo para atravessar transversalmente todas as equipas Sporting, a outra, é qual o melhor para o plantel principal. Nestes pontos penso ser elementar que uma equipa em Portugal aproveite as características futebolisticamente genéticas do que é o jogador luso. Não é muito rápido, não é muito alto, nem muito robusto, mas é agressivo, tecnicista, bom a ler o jogo. Este mapa normalmente resulta em bons laterais, bons médios e excelentes extremos. Pontas de lança, guarda-redes e centrais são mais raros, mas enquanto os 2 últimos vão aparecendo, no ataque a questão é mais grave. Jogar com um sistema de apenas um avançado, 2 extremos, um pivot e dois médios defensivos é lógico e recomendável. Aliás apenas o Barcelona e o Bayern, do top 20, não jogam com variantes deste modelo. Até que outro sistema vingue, por agora e durante alguns anos, mandará o 4-2-3-1. Penso ser este o formato quer para implantar nas escolas, quer no plantel principal. Abandonando o 4-3-3 que forma médios como Pereirinha que não são extremos mas apenas médios que apoiam extremos e no futebol moderno onde é que existe essa posição?

4/ Estilo de jogo
Aqui Eduardo foi um pouco “romântico”. Hoje em dia não há estilos, mas apenas formas tácticas. O Barcelona tem um estilo de jogo? Não. Na minha opinião, se retirássemos Xavi, Iniesta, Pedro e Messi e colocássemos Ronaldo, Alonso, Kaka e Ozil o tiki-taka não existira pura e simplesmente. É uma questão de intérpretes e o conhecimento total que têm de si como equipa. Isso vem de muito e bom treino, muitos e bons jogos. Uma equipa ascende a parecer que tem um estilo quando os planteis e os onzes sofrem poucas alterações durante alguns anos. O “jogar à Sporting” que me lembro ser um estilo pressionante, que “sufocava” o adversário até conseguir o golo, mas com técnica e grandes desenhos colectivos sejamos realistas, já não existe, tal como não existe o “à Benfica” ou o “à Porto”.

5/ Comunicação
Desde que comecei este blog, que insisto nesta matéria. O Sporting tem uma péssima política de comunicação interna e externa. Mas penso que a melhor forma de resolver o problema está na empatia entre treinador – jogadores - directores – presidente. Se formos justos é coisa que não tem sido conseguida em Alvalade, quer com o estilo autoritário de Paulo Bento, quer com estilos mais benevolentes como o de Boloni ou Fernando Santos. A réplica do modelo “espartano” do Porto, chegada com Costinha só trouxe dissabores, porque, lá está, não teve a empatia de todos os intervenientes. Um modelo de comunicação é criado com hierarquias, prioridades de acesso a informação, escolha de “players” apropriados para cada momento e sobretudo excelente fluxo de informação entre as partes. Quem conhece o Sporting sabe que nunca foi essa a modalidade eleita. Os jogadores são peça chave em qualquer plano e só “burros” pensam que as rolhas do Porto funcionam no séc.XXI, na era das SAD e da Bolsa.

6/ Camisola Premium
Mas que péssima ideia. O Sporting é o clube de verde às listas. Esse é o seu equipamento principal, a sua cara, a sua marca. Negar isso aos escalões jovens é negar a alegria de crianças e adolescentes em vestir a camisola “do Sporting” dentro do campo e imaginar que serão os próximos Nani´s e Ronaldo´s. Já nem falo da questão dos patrocinadores das equipas, mas Eduardo fala do merchandising…mas quem é que vai querer comprar a camisola dos “putos”? Em termos de mkt infantil e juvenil seria um puro desastre. Mais a mais, em termos de design de equipamentos, não estamos mal com a Puma.
 
7/ Academia
Não entendi muito bem a história dos resultados financeiros da Academia. Esta infra-estrutura tem duas componentes a humana e a física. Se a primeira só terá lucro com as vendas de jogadores, que serão lucro da SAD, a segunda só em regime de aluguer poderá captar receitas. Não conheço o projecto a fundo, mas não me parece que a Academia de Alcochete consiga ser a casa de treinos da equipa principal, de todos os escalões e de ainda existir espaço para programar estágios de outras equipas. O sucesso financeiro da Academia estará sempre no dinheiro que poupa e no prestígio que dá á marca Sporting. Sobre o projecto de expansão das Academias sei o suficiente para estar calado neste momento.

8/ Roadshow / Fim-de-semana Sporting
O Sporting é uma marca e nada o impede de chegar mais perto dos seus adeptos, mesmo que estejam longe de Lisboa. Para uma Academia, penso ser mau o modelo de “digressão”, as agendas dos profissionais de futebol estão sobrecarregadas (acções sociais, comerciais, institucionais) e convínhamos são eles a ser requisitados. Este modelo sobrecarregaria bastante os calendários e apesar de concordar na teoria com a ideia, penso ser mais fácil trabalhar com os núcleos para programadamente visitar um número pequeno por ano. Este contacto directo do clube e não da Academia (tornar um departamento frente de contacto é um erro que qualquer gestor conhece de raiz) deve ser extraordinário e não banalizado, para que se mantenha pelo menos o carácter aspiracional da…lá está…marca. Mas existe muito trabalho a fazer na expansão da marca. Deixarei este capítulo para posteriores posts.

9/ Masters do Universo?
O que propõe Eduardo nesta matéria é mais um modelo de estéril discussão que perpetuará um senado muito semelhante ao Conselho Leonino (não vejo substanciais diferenças com o modelo Masters). Na realidade os órgãos consultivos servem de muito pouco, se alguém me conseguir explicar em que é o que o Conselho Leonino ajudou nos últimos 2 anos darei a mão á palmatória. Mas até lá penso que o órgão deveria ser suspenso e extinta a ideia de que no Sporting existem “sábios” ou “nobres”, sócios “notáveis” ou qualquer outra brincadeira que roça muito fortemente os “gentlemen clubs” do antigamente.
Já o Universo Sporting é uma ideia que pode ser explorada, mas mais ao género de um fórum permanente activo que culminaria num seminário anual. Seria um trabalho de investigação para uns e de debate para todos. As ideias são o que traz o futuro e no Sporting tem havido poucas ideias.

10/ Organograma
1 CEO e 4 administradores. Ok Eduardo, mas a “lei”de uma boa gestão organizacional obriga a que se criem detectem primeiro as necessidades, depois as tarefas, as competências e só depois os cargos. Nesse sentido e só depois de uma auditoria e consultoria funcional e operacional alguém estará apto a dizer como deve estar o organograma do clube e da SAD. Mas isto já está tudo inventado há décadas…para quê a criatividade?

Até breve.

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