quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Erro de Bettencourt

Depois do Congresso de Santarém, que urge repetir, eu e muitos sócios ficaram com a noção de que embora o clube não estivesse a respirar de uma saúde assinalável, o “cérebro” permanecia intocável, porventura mais lúcido que nunca. Daí para cá elegemos um Presidente de forma unânime e este fracassou também de forma unânime. O cérebro errou ou adormeceu? Por outra, o que é falhou na gestão de Bettencourt?

Recomendo vivamente a qualquer sócio, que esteja a pensar em candidatar-se, a colocar-se a si próprio esta pergunta. Uma boa resposta pode inclusive dar-lhe a vitória nas urnas. Não sendo candidato, posso partilhar com quem lê este blog a minha opinião, vale o que vale, mas é um exercício fundamental pelo menos para mim que não darei o meu voto a qualquer fato e gravata empurrado por consensos que desconheço a motivação.

São seis pontos, haveria mais, que concentram aquilo que chamo “O Erro de Bettencourt”.

Treinadores
Quando meia parte de sportinguistas já se preparava para a chegada de um novo técnico, Bettencourt, influenciado pelos factores positivos da gestão de Paulo Bento, insiste na permanência do treinador, mesmo quando este já considerava nada poder acrescentar à equipa. Paulo Bento deve ter sentido que o Benfica se preparava para mudar de paradigma e dificultar o meio sabor a vitória das idas directas à Champions. Apesar de tudo JEB apostou todas as fichas numa ligação gémea entre presidente e treinador. Perdeu as suficientes para não mais erguer a cabeça, quando o assunto era treinadores. Depois de “ceder” tarde demais à evidência, contratou um “temporário” Carvalhal. A escolha pode até ter sido feliz (em relação aos objectivos) mas a forma como se desassociou do sucessor do “forever” foi infeliz e muito pouco útil à gestão da equipa. Naturalmente esperava-se uma aposta forte no sucessor, promessas foram feitas sobre um tal “nome” que iria surpreender a nação leonina. Surpresa houve, mas pela negativa, Paulo Sérgio não tinha nenhum traço de vencedor num currículo breve e numa pura precipitação investe muitas centenas de milhares de euros no “resgate” de toda uma equipa técnica que provavelmente sairia do Guimarães a custo zero. Pelo caminho ficaria um pré-contrato com uma jovem promessa que lidera hoje o FC Porto e lidera também o campeonato. Quatro opções, quatro rotundos falhanços. Apostando em treinadores “sem garantia” assumiu o risco e pagou-o.

Directores Desportivos
Paulo Bento dava-se bem com o estilo de Barbosa, um falava sobre tudo o outro sobre nada. É um mistério a acção de Pedro Barbosa, um ar calmíssimo e reflectido (o que também era o seu modo como jogador) não se activava como voz do clube, ao invés, fazia parecer que PB estava sozinho. Seguiu-se Sá Pinto, uma escolha que agradava aos adeptos mas que se veio a provar frágil, o Ricardo ferve em pouca água e uma “traquinice“ de Liedson fez o director esquecer que comandava uma equipa de futebol e "armar-se" num  porta-voz dos adeptos. A transição com outras figuras pelo meio dá-se com a chegada de Costinha. Muitos elogios depois, JEB começava a tentar “fechar” com o novo director uma estratégia mais espartana de comportamento e comunicação dos jogadores e técnicos com a imprensa. O processo foi tão mal conduzido que Costinha seria exposto ao ridículo de justificar regras que sendo internas nenhum interesse teriam para quem não fazia parte do balneário. Tinha começado a queda de Costinha, que seria avolumada com sucessivos silêncios após derrotas.
Antes mesmo de sair nomeia Couceiro numa “espécie de director desportivo”, que ninguém entende como articular com Costinha. Entende-se que será um cargo superior, mas não se entende no quê.
Penso que terá faltado mais engenho na escolha de um director desportivo. Se queríamos um “manager” para contratações e planeamento porque não Luis Freitas Lobo? O que terá Costinha mais para oferecer, experiência como ex-jogador? O que é que isso tem servido ao clube?

Comunicação
Saber quando, como e o que dizer é uma arte. Considero JEB um óptimo comunicador de ideias e de projectos. Mas um péssimo gestor mediático de conflitos, e ainda pior a “disciplinar” as hostes em tempos de desmotivação ou maus resultados. Faltou sempre uma intervenção, uma “murro na mesa”, um atempado aviso, uma pressão adicional ao comportamento da equipa, dos sócios, das claques. Um presidente eleito pelos sócios também é o primeiro dos mesmos e como tal com poderes e autoridade para interagir com eles. Ao contrário das promessas eleitorais, JEB foi muito mais um presidente do clube, do que dos sócios. Quando era tão mais necessário o contrário. Mas não reagir, não é uma opção, por muito “britânico” que seja o estilo, numa sociedade patriarcal espera-se a orientação de uma figura poderosa. Foi quase sempre ausente. JEB não soube de facto dar segurança a ninguém que não pertencesse ao seu núcleo de trabalho, isso não é ser presidente, é ser director.

Alianças
Nunca se entendeu o alinhamento com FC Porto, ao ponto de provavelmente nem Pinto da Costa saber se teve JEB como aliado. Mas foi evidente o espaço significativo dado às manobras do FC Porto, a não oposição também é uma forma de concordância e o Sporting foi uma espécie de Suíça mal amanhada.
Aliás todo o mandato de JEB se pauta por uma amedrontada gestão das relações com o Benfica, talvez receando a subida de poder que LFV está a conseguir amealhar muito à custa, diga-se, da nossa passividade. As recentes direcções têm permitido uma divisão de protagonismo entre os nossos dois rivais, quando antes sempre fora uma divisão a 3. Hoje, politicamente o Sporting alia-se a quem está mais frágil tentando que um dos pesos da balança não caia demasiado, além de idiota, é uma atitude passiva que não deixa de ser bem explorada pelos nossos adversários.

Objectivos
Apesar dos discursos, a verdade é que JEB nunca pareceu revelar uma ambição (necessária) que levasse o clube a querer mais do que o que tinha conseguido nas épocas de Franco ou Dias da Cunha. Esse foi o grande pecado, pois tal como uma equipa que aponta para o empate acaba por perder, quem aponta para o 2º lugar, fica em 3º ou em 4º. Esta gestão de empenho e foco em qualquer coisa que não seja a conquista absoluta, aceita o “prémios de consolação” como se vitórias fossem. O dinheiro não é o suficiente, o poder de influência também não e JEB ficou-se pelas desculpas em vez de incutir uma motivação no clube para realizar o “tal” extra, o tal esforço para derrotar as probabilidades. Não foi esse o entendimento e as subidas graduais projectadas nunca aconteceram, os objectivos desapareceram e dois meses depois das épocas começarem já estávamos fora da luta pelos lugares cimeiros.

Academia
É no mandato de Bettencourt que o projecto das camadas jovens começa a apresentar brechas significativas na sua gestão, nomeadamente na escolha de responsáveis para liderar o projecto. Conflitos à parte, fica a ideia de uma certa espionagem por dentro do clube permitida por muito desmazelo e a fanfarronice de pensar que ninguém consegue reproduzir o nosso modelo. Pois bem. Está à vista no que deu.
Mas nem tudo foi mau. As academias tiveram impulso de expansão à escala mundial e aplaudo a ambição e visão que os dirigentes tiveram nesta matéria. Mais cuidado se recomenda na blindagem de jovens valores como Bruma e Dier, que não deverão nunca ser “roubados” sem que exista grandes contrapartidas financeiras. Aliás penso que devia ser uma regra de ouro no clube nunca vender um jogador da Academia sem que este passe pela equipa sénior. É um procedimento um pouco “estalinista”, mas também serviria para acalmar a avidez dos empresários além dos negócios precipitados. Um Bruma que vale hoje 2 milhões pode num ano ou dois, valer 10 vezes esse valor. Não valerá a pena esperar?

Deixei de parte algumas áreas da gestão do clube, porque acho que nem tudo foram erros, a gestão financeira, a reorganização de recursos humanos no clube, a gestão institucional foram aceitáveis ou boas, dependendo da perspectiva ou da expectativa.

Até breve.

2 comentários:

  1. excelente análise! Completa e minuciosa...só não gosto quando as pessoas criticam o JEB por ele ter contratado o Paulo Sérgio e ter deixado o AVB ir para o Porto...que tinha o AVB no curriculo que o Paulo Sergio nao tinha? Ele era um observador de outras equipas, nem treinador era...provavelmente se fosse ao contrario, se o AVB tivesse vindo para o sporting e o Paulo Sergio para o porto a situacao estava na mesma...

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  2. Qualquer treinador no Porto a esta altura arrisca-se a ser campeão. O PSergio lá estaria em grande e o outro cepo estaria em palpos de aranha. O problema do sporting é muto mais profundo.Só em directores desportivos quantos por lá passaram e sairam pelos fundos? NO porto a estrutura é forte por isso com VBoas.PSérgio,Jesus.MMachado ou DPaciência - qualquer destes senhores era campeão no Porto do incrível Hulk,Falcão ou James(bond)Rodriguez!

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