segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O Sonho (Sul) Americano

Porto e Benfica não param de ganhar. Com mais ou menos sorte, mais penalty menos penalty, a verdade é que, embora distante, só o Benfica parece capaz de poder ameaçar o título do Porto e da mesma forma impedir que o projecto multimilionário da Luz se quede já no primeiro ano por um total insucesso. O Porto investiu forte esta época, James, Moutinho, Walter, Souza, Otamendi, mas até se pode dizer que o fez, não porque o onze da última época era fraco, mas porque as segundas escolhas deixavam muito a desejar.

Resultado, apenas Moutinho é titular. Todos os outros andam à espreita por um lugar, não se vendo qualquer pressa de Villas Boas em permiti-lo apenas porque custaram caro aos cofres do Dragão. Já o Benfica, gastou este mundo e o outro (Roberto, Fábio Faria, Jara, Gaitan, Fernandez, Rodrigo e o empréstimo a pagar de Salvio) e apesar de um começo catastrófico (Jesus esteve provavelmente a uma derrota de ser despedido) a equipa começou a erguer-se o que mantendo alguns equívocos (Roberto) em campo foi conseguido através da subida de forma de alguns atletas (Saviola, Aimar e Salvio).

Mas este post não serve para fazer o retrato da concorrência. Serve para falar da competitividade dos jogadores portugueses. Nomeadamente face a Argentinos, Uruguaios e Brasileiros. Reparem nas nacionalidades maioritárias de cada um dos 3 grandes:

Benfica – 32% Brasil / 28,5% Portugal / 21,5% Argentina
Porto – 29,2% Portugal / 25% Brasil / 12,5% Argentina / 12,5% Uruguai
Sporting – 59,5% Portugal / 7,5% Brasil / 7,5% Chile

Agora reparemos no onze habitual (mais recente) de cada um:

Roberto, Maxi, Coentrão, Luiz, Luisão, Garcia, Gaitan, Saviola, Cardoso, Salvio, Aimar
(1 português, 2 espanhóis, 1 Paraguaio, 1 Uruguaio, 2 Brasileiros, 4 Argentinos)

Helton, Pereyra, Fucile, Rolando, Maicon, Fernando, Moutinho, Belluschi, Falcão, Varela, Hulk
(3 portugueses, 4 Brasileiros, 2 Uruguaios, 1 Colombiano, 1 Argentino)

Patrício, Pereira, Evaldo, Polga, Carriço, Mendes, Santos, Valdes, Vukcevic, Liedson, Salomão
(6 Portugueses, 3 Brasileiros, 1 Chileno, 1 Montenegrino)

Ninguém pode deixar de pensar que existe aqui um sinal claro para análise dos Sportinguistas. Num futuro próximo (5 ou 6 anos talvez) o retrato de um candidato ao título será muito mais aquilo que o Sporting apresenta. Mas isso será daqui a muitas épocas. Entretanto qual será a estratégia a escolher? Comprar Argentinos e Brasileiros como os nossos rivais? Optar pela valorização do atleta português? Que custos terá cada uma das opções?

O Fair Play financeiro da UEFA, passa pelo fim do endividamento louco dos clubes e uma ou outra regra de inscrição nas competições europeias, com a subida dos números obrigatórios de inscrição de atletas formados no país e no clube. Isto pode realmente mudar os pesos das balanças de transferências, passando o atleta do país de origem do clube a valer muito mais, passando os atletas formados nos clubes a valer ouro puro. Para clubes como o Sporting isso pode significar o início de uma nova era. Pode, mas não é certo que o venha ser. Para que tudo isto aconteça, tem de acontecer algo extraordinário: A UEFA ir contra os interesses de clubes como o Chelsea, Inter, Bayern, Marselha, que não têm histórico de formação. A UEFA ir contra todos os clubes sul-americanos (que vendem camiões de jogadores todos os anos). A UEFA ir contra todos os empresários e empresas de gestão de carreira desportiva (que veriam os números de transferências baixar drasticamente). É muito. E a UEFA não propriamente conhecida por desafiar todo este “establishment”.

Existe uma esperança. Que clubes como o Sporting, FC Porto, Barcelona, Real Madrid, Man Utd, Arsenal, Liverpool, Ajax, Feyenoord, Milan, Juventus, que realmente formam atletas, promovam esta mudança. Será difícil, mas não é impossível. Para que isso aconteça, o Sporting não deve mudar a sua estratégia de aposta na Academia, ao invés deve investir ainda mais nela. O clube com a única escola de formação certificada, não deve destruir essa referência, pois é um dos maiores símbolos da formação mundial. Mas o que fazer para ser mais competitivo face a Porto e Benfica?

Na minha opinião, o Sporting deve:
1.Ser mais cuidadoso na gestão do produto da Academia. Empréstimos, renovações de contrato, técnicos da formação, formação de Equipa B ou clube satélite em Lisboa.
2.Criar internamente uma regra de cotas de jogadores no plantel sénior. O plantel sénior teria de ter sempre um número mínimo de jogadores formados no clube.
3.Passar a contratar jogadores no estrangeiro, apenas quando se assegurar que são realmente grandes apostas. Jogadores como Pongolle, não podem vir para o Sporting. Caros, sem motivação, com a carreira estagnada.
4.Ser mais atento ao mercado interno. O mercado nacional está muito mal explorado, com péssimas relações institucionais com a maioria dos clubes da primeira liga. Fábio Coentrão e Fábio Faria do Rio Ave, Fernando e Assunção do Nacional, são só alguns exemplos de jogadores que estiveram “quase”, mas faltou agilidade diplomática
5.Ter uma relação mais transparente com empresários. Criou-se o mito que Mendes tem um peso na gestão do clube desproporcionado. Alguém tem de definir regras institucionais com os representantes dos jogadores. Assente no mérito, na melhor oferta, no melhor timing e não no historial e influência de cada agente.
6.Fazer de Eric Dier um símbolo. Garantindo uma via aberta para que outros jogadores vindos de todo o mundo queiram vir, por vontade individual, para Academia.
7.Prosseguir na diáspora das Academias. Os benefícios podem demorar muitos anos a chegar à equipa principal, mas ninguém duvida da rentabilidade de ter uma marca de formação internacional e a probabilidade muito grande dos próximos Ronaldos se encontrarem na China, ou na África do Sul.
8.Elevar os jogadores da formação a símbolos do clube. Como já faz Barcelona e Man Utd. A manutenção de atletas de grande potencial no Sporting também se faz pela primazia nos contratos publicitários, no espaço nos media, na escolha de capitães e sub-capitães. Moutinho foi muito mais um conflito mal resolvido do que uma aposta errada na pessoa/ jogador símbolo da formação.
9.Formar e aproximar ex-jogadores como referências internas. É essencial que um jogador com uma carreira no Sporting exemplar se mantenha no clube como transmissor da identidade do mesmo. Oceano, Carlos Xavier, Manuel Fernandes, Jordão, Venâncio, Yordanov, Ivkovic, quem sabe no futuro Liedson ou Tiago poderão fazer um caminho e um trabalho no clube de que este muito precisa. Os escritórios frios e minimalistas da SAD não respiram a clube e muito menos a futebol.
10.Implementar um modelo de jogo base único. Não é possível ter todos os escalões de formação a jogar em 4-3-3 e a equipa principal em 4-2-3-1. Apenas os guarda-redes, os médios centro e os centrais se conseguem adaptar, para os outros é toda uma aprendizagem que têm de fazer num mês, quando passaram 10 anos a jogar num sistema de apoios e posições diferentes.

Se todas estas medidas fossem adoptadas, talvez, deixo margem de erro, não tivéssemos de ir atrás dos carregamentos de Sul Americanos, que invariavelmente custam mais aos cofres do clube que duas ou três épocas dos escalões de formação juntas. Não tenho nenhum problema com contratações nesses países (Valdes, Fernandez e Liedson são do melhor que o nosso plantel tem), mas também sei que para um clube com o ADN e a tesouraria do Sporting fazer uma “argentinização” ou “chilenização” da equipa pode não ser o caminho mais visionário e inteligente a fazer.

Até breve.

2 comentários:

  1. Daqui a muitas épocas??

    Há pelo menos a regra do fair-play financeiro e a do 6+5 a entrar em 2012/2013... logo ái, já vão haver muitas diferenças!!

    SL

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  2. sim, nesse aspecto estamos no bom caminho...nao te esquecas que oficialmente temos 8 portugueses nesse teu onze pois o evaldo e o liedson sao considerados "portugueses" ;), portanto ainda melhor para nos

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