sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Uma ousadia selectiva

João Ferreira não se sente capaz de arbitrar o jogo entre Beira Mar e Sporting. Aparentemente as declarações de GL fizeram-no sentir-se pressionado. Na verdade a única pressão real sobre a sua arbitragem advém da péssima prestação de Xistra, ela sim condicionará qualquer árbitro na próxima partida. Mas se o senhor tem esse direito, nada a dizer, apenas salientar que em situações iguais e muito mais graves nenhum árbitro se sentiu limitado a arbitrar. É ousado o gesto e ninguém sabe o que representará na APAF. É um acto isolado e pontual ou é já a expressão de uma reacção colectiva?

Seja o que for é mais um episódio de "coragem" súbita, mais um braço de ferro entre a arbitragem e o Sporting. É curioso o atrevimento apenas e só porque quando se passa exactamente o mesmo com Porto e Benfica não vemos nenhuma reacção individual ou colectiva. Não é preciso muito para nos lembrarmos o que diz PC de alguns árbitros (de forma sistemática o que ainda é mais grave) ou o que as "vozes" de LFV submetem à imprensa sobre outros tantos senhores do apito. A coragem aí é normalmente substituída por um sorriso cobarde que esconde a incapacidade (ou o medo) para enfrentar estas duas instituições.

Bem que pode o Sporting estar permanentemente a tentar solucionar o problema da arbitragem portuguesa, não passará de letras mortas, primeiro porque ninguém quer melhorar este sector e depois porque os próprios beneficiários estão-se nas tintas para as soluções do Sporting. O cão obedece ao dono e mesmo que um "estranho" lhe dê bife do lombo, o animal irá preferir sempre o osso velho e podre que tem aquele cheiro característico do seu provedor. O problema dos árbitros chama-se Benfica e Porto. A disputa destes dois emblemas por favorecimentos ilícitos dura há tanto tempo que é difícil sequer imaginar o futebol português sem as polémicas pós-partida.

A relação de forças está institucionalmente bipartida e esse combate entre anjos e demónios, que trocam de camisola de vez em quando, está a matar o futebol português. Durante muitos anos acreditei que muitos dos problemas cessariam com a saída da velha guarda de dirigentes que regulavam o poder durante os anos 80 e grande parte dos anos 90. Essa esperança morreu quando olho para presidentes como os do Nacional, do Guimarães ou do Braga. Novos interpretes que fazem parecer Pimenta Machado ou Valentim Loureiro autênticos samaritanos. De factos os hábitos perpetuaram-se, apenas estão mais dissimulados, a vassalagem a Benfica e Porto é total.

Neste campo de preto ou branco, azul ou vermelho, a favor ou contra, joga também a arbitragem. Cada vez mais fraca, errática, indisfarçavelmente preocupada apenas com o que acontece com os seus "donos" Porto e Benfica, o resto é paisagem, o resto é para exibir estilo e criatividade. O Sporting é só mais um dos 14 clubes que se podem queixar, e muito, dos homens do apito. A diferença é que também o Sporting quer lutar por títulos, facto que passa completamente ao lado da arbitragem. Falamos alto, mas não temos chicote. Sem dor não há castigo e sem castigo não há arremetimento. Há apenas ousadia.

Até breve.


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