quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A Árvore e a Floresta

Ao olhar para as exibições de Pereira, Postiga, Moutinho na Selecção, a carreira hiper-elogiada de Veloso em Itália, pergunto-me se o problema do Sporting será realmente a qualidade dos jogadores. Acho que é pacifico que Tiago, Grimi, Saleiro e Tales poderão ser cartas difíceis de imaginar em qualquer outro clube de igual ou maior dimensão que o Sporting. Penso também que Valdes, Torsiglieri e Zapater ainda estão a adaptar-se ao futebol português e que P.Mendes e Izmailov lesionados a somar a um Liedson, um Djaló e um Postiga descrentes são peças que poderiam estar a dar muito mais à equipa.

Mas existe qualidade, muito mais qualidade do que os resultados e exibições deixam transparecer. Todos o dizem, todos o sabem, mas afinal porque é que não acontece?
Ultimamente vejo muitas das culpas imputadas à sorte. A sorte o azar, diz a matemática mais ensaísta, é uma questão de probabilidades, uma sujeição humana a um factor de frequência e sucessão de causas idênticas. Pondo as coisas de forma mais simples, se um jogador não rematar à baliza tem 0% de probabilidade de marcar golo, se rematar fora da área, terá 10%, se o remate for feito dentro da área subirá para 32%, se for um penalty 69%. Ora isto nada tem de sorte, é uma questão de jogo efectivo.

A trave, polémica recente em Alvalade, existe e faz parte do jogo. A missão das equipas não é mandar bolas aos postes, mas sim para dentro dos postes. O azar de acertar no poste é uma falsa questão, porque faz parte do jogo. Chamaria de azar, se um jogador com a baliza totalmente escancarada levasse com uma rajada de vento que o atrapalhasse de forma a falhar o golo. Isto seria azar, já que houve um factor estranho ao jogo, mas não ilegal, que interferiu no sucesso da jogada.
A sorte, diz o ditado, vem com o trabalho. Mas não quero dizer com isto que Paulo Sérgio não trabalha, ou que não “obriga” a equipa a trabalhar, penso que o trabalho não será é o mais correcto.

No primeiro dia de trabalho o treinador actual do Sporting anunciou que a equipa iria ter sempre 2 sistemas tácticos, um mais cauteloso e outro mais ofensivo. Até aqui tudo bem, existem treinadores que têm 3, mas é discutível até que ponto serão efectivamente  3 modelos distintos e não apenas um com 2 nuances adaptáveis. O problema é que os 2 modelos existentes na equipa rendem exactamente o mesmo, ou seja, muito pouco. A equipa parece adaptar-se melhor ao 4-3-3, mas com Izmailov, P.Mendes e Liedson fora da equipa, as alternativas não têm equilibrado quer as alas quer o meio-campo. A chave parece ser sempre a produtividade de Fernandez como pivot ofensivo e essa a meu ver tem sido mal explorada.

Existem muitas falhas no desenho defensivo e ofensivo do Sporting, a equipa quando quer atacar precisa de envolver muitos jogadores e quando precisa defender surge algo curta para o contra-ataque. Aqui Paulo Sérgio falhou rotundamente no treino de movimentação. Já nem falo nas bolas paradas onde a equipa não marca e sofre como gente grande. Todas estas brechas são facilmente aproveitadas pelos treinadores do nosso campeonato que tem dado banhos tácticos ao nosso. Quero ver alguém a contrapor isto…

Ora quando tantos Sportinguistas afirmam que os problemas do Sporting não se resumem ao treinador, escapa-lhes um detalhe: os problemas não se resolvem todos de uma vez. Quem gere o que quer que seja, sabe que quando temos, por exemplo, 4 problemas, o objectivo não é arranjar uma solução que os resolva todos de uma vez, mas sim isolar os problemas e encontrar uma solução para cada um.
Pegando na simbologia da árvore (também ela em voga pelos nosso lados) e da floresta, acho que os adeptos do Sporting têm olhado mais para a floresta, sendo pouco objectivos a olhar para a árvore principal que é a prestação da equipa de futebol. Um problema de cada vez recomendaria olhar mais para o que está a acontecer com o futebol e porque é que estamos no 10º lugar, a fazer jogos miseráveis, a ouvir desculpas que envolvem tudo menos a mais pura das verdades: o Sporting está mal orientado a nível técnico.

Culpar Bettencourt pelos resultados da equipa, é pouco razoável, a não ser que achemos que é o mesmo que treina, prepara e escolhe o onze da equipa todas as semanas. Que é o responsável máximo, isso é óbvio, mas até que ponto vai a sua capacidade para intervir na área técnica? Por mim culpo-o de apenas uma coisa, neste aspecto: não ter demitido Paulo Sérgio logo a seguir ao jogo da Luz. É que por exemplo o Pinto da Costa da última época é o mesmo desta e a equipa produz algo completamente diferente, o que mudou? Será que foi o treinador?

Na próxima AG do clube, muitos dos dedos acusadores só terão mais apoio popular pela má prestação da equipa e esse é um grande problema de miopia institucional. Os outros problemas são bem mais graves, com dificuldades financeiras e alinhamentos politico-desportivos misturados num cocktail explosivo. Mas não tenho nenhuma dúvida de que se estivéssemos no 1º lugar da tabela, seria mais uma AG morna e pacífica, ao género de tantas outras que tem acontecido nos últimos anos. È o que acontece quando deixamos que uma árvore arda pensando que a floresta é muito maior.

Até breve.

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